• Membros do partido avaliam como certo o abandono da militância diante dos escândalos
Angélica Diniz | O Tempo (MG)
Os próximos capítulos da operação Lava Jato têm provocado antecipadamente um cenário de incerteza para as ambições do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições de 2018. Tendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como única opção com chances de disputar a Presidência da República, os dirigentes da legenda vivem a iminência da prisão do líder petista por suposto recebimento de propina, o que inviabilizaria sua candidatura ao Planalto.
Sob rejeição da opinião pública desde os escândalos de corrupção no governo, o PT convocou para abril a sexta edição do congresso nacional da legenda, que promete ser um divisor de águas para a militância. Da reunião, segundo especialistas, surgirá ou um novo projeto de poder com o intuito de reconquistar a confiança do povo, ou, se faltar consenso, o início de uma debandada que reduzirá a influência do partido na política.
Ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro do governo Lula, o petista Tarso Genro é um dos quadros mais antigos do PT que ainda resistem, embora seja crítico da atuação do partido nos últimos anos. Segundo ele, um possível abandono da militância dependerá dos resultados do congresso nacional.
“Se ocorrerem saídas, estas serão diferenciadas. Tem aquelas que serão feitas apenas para resolverem problemas eleitorais de indivíduos preocupados com suas carreiras eleitorais e aquelas que serão feitas por pessoas, ou grupos, que se propõem a construir um novo projeto de esquerda. Opino que só depois do congresso esses grupos começarão a se movimentar, se o fizerem”, avaliou o petista.
Na avaliação de Tarso Genro, um dos protagonistas do movimento Muda PT, a renovação da legenda passa necessariamente pela troca de comando do partido. “Quando falo em renovação, quero dizer alteração na hegemonia interna do PT”, afirmou.
O deputado federal mineiro Reginaldo Lopes também não descarta uma desfiliação em massa. O parlamentar aposta na elaboração de um projeto forte e inovador para reconquistar o apoio e o voto da população. “Se houver debandada, acredito que será para formação de um novo partido, porque muitos petistas não se identificam com outras legendas”, disse.
Para o professor de ciências políticas da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio Sérgio Praça, o cenário de incerteza provocará um inevitável abandono dos petistas. “O que está causando tanto problema para o PT agora é incerteza. O Lula vai ser preso? Quando pode acontecer? Quanto tempo vai ficar? Se o partido o apoiar, as pessoas o vão continuar apoiando? Então, isso que está acontecendo e que deve continuar nos próximos meses é essa saída para outros partidos, como Rede, PSOL e talvez o PSB. O que não falta é partido. Muitos políticos vão optar por esse caminho”, analisa o especialista.
Para especialista, futuro é se tornar sigla de médio porte
Baseando-se no resultado das eleições municipais de 2016, o professor de ciências políticas da FGV-RJ Sérgio Praça prevê um futuro ainda mais negativo para o PT na disputa em 2018. Com a possível debandada de políticos do partido, o especialista acredita que haverá uma significativa redução da bancada petista no Congresso.
“Não vejo um bom futuro para o PT, no sentido de que eles vão perder, de acordo com o que a gente pode prever pela eleição municipal – e dá para prever bastante coisa, sim –, boa parte das bancadas dos deputados federais. E poder político no Brasil é representado pela quantidade de deputados federais. Claro que, quando você tem o presidente, dá um poder ao partido gigantesco, mas a bancada de deputados é o que mais representa sua força política. E tudo está caminhando para que o PT se torne um partido de médio porte, e não um partido de grande porte, como tem sido nos últimos anos”, analisou Praça.
Entre derrotas em berços eleitorais já consagrados e quedas nos candidatos eleitos para prefeituras e câmaras municipais, o PT encolheu neste ano 60,9% em relação a 2012, maior índice de retração nos votos.
Menos votos
Eleição. Há quatro anos, 17,4 milhões garantiram as vagas ocupadas pelo PT. Em 2016, o PT somou apenas 6,8 milhões de votos no primeiro turno, uma perda de mais da metade dos eleitores.
Partido insiste em lançar Lula como candidato à Presidência
O PT informou que pretende lançar a pré-candidatura do ex-presidente Lula à Presidência da República ainda no primeiro semestre deste ano, entre fevereiro e abril. A estratégia tem dois objetivos. O primeiro é aproveitar politicamente a baixa popularidade do governo Michel Temer (PMDB). O segundo é reforçar a defesa jurídica de Lula, réu em cinco processos penais, quatro deles provenientes da operação Lava Jato.
O PT defende formalmente a antecipação da eleição presidencial em caso de cassação da chapa Dilma Rousseff-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Parte dos líderes defende que Lula seja lançado candidato logo no começo do ano para se antecipar a possíveis condenações na Justiça que possam barrar sua candidatura ou até levar o ex-presidente à prisão em 2017.
MINIENTREVISTA
Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul
O PT passa por uma discussão interna sobre renovação. Que medidas são discutidas para que aconteça uma mudança?
A discussão que tem sido feita, na minha opinião, é insuficiente para formar um congresso que seja renovador. Quando falo em renovação, quero dizer alteração na hegemonia interna do PT, que lhe permita apontar quais os erros de fundo e de forma que cometemos, para sermos colocados numa posição defensiva de tal ordem que resultou numa deposição golpista de “novo tipo” da nossa presidenta (Dilma Rousseff). O oligopólio da mídia teve um papel relevante, mas esse papel só teve sucesso porque soube aproveitar muito bem as nossas debilidades. Isso é que deveria abordar o nosso congresso, para, a partir daí, nos apresentarmos novamente como o partido da esperança e da mudança.
A diretoria caminha para um consenso ou há muitas discordâncias?
Na minha opinião, caminha para o consenso, o que tem a virtude de manter uma certa unidade. Mas, certamente, terá a limitação de avançar pouco para enfrentarmos, com força renovada, os árduos novos tempos que virão, de reação neoliberal, ajustes predatórios e limitação das liberdades democráticas.
O que o PT precisa fazer para se reerguer até 2018?
Redefinir sua estratégia democrática, o que significa compor uma nova frente política, com base programática renovada, para fugir da tutela permanente do centro fisiológico representado pelo PMDB, que, se por um período permitiu avançarmos em programas sociais e no desenvolvimento econômico, esgotou seu “progressismo” desde a segunda metade do primeiro governo Dilma.
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