O governo conta com superávit na balança comercial neste ano próximo do patamar atingido em 2016. Não será tarefa fácil repetir ou superar o resultado recorde de US$ 47,692 bilhões, o maior da série iniciada em 1989. O saldo obtido no ano passado foi resultado de uma combinação de situações que dificilmente se repetirão neste ano - para o bem e para o mal.
Os dois principais fatores que explicaram o superávit de 2016 foram a recessão e a desvalorização do real, que reduziram drasticamente as importações. Pode-se dizer que o bom resultado comercial foi construído às custas de uma economia fraca que deve reagir neste ano. A média diária das importações caiu 20,1%. Somente a importação de combustíveis e lubrificantes caiu 43,1%, causando o primeiro resultado positivo na conta-petróleo em duas décadas.
Assim, o saldo recorde foi principalmente devido à queda das importações e não ao aumento das exportações, que também caíram no ano passado, 3,5% na média diária, embora tenha havido um aumento de 2,9% no volume exportado. O resultado das exportações foi negativamente afetado pelo recuo de 6,2% dos preços médios, que atingiu sobretudo as commodities.
Cálculos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostram que, enquanto as vendas de produtos básicos recuaram 9,2%, em grande parte pela queda dos preços da soja e do minério de ferro no mercado internacional, as exportações de semimanufaturados subiram 5,7%, e as de manufaturados, 1,6%. O Iedi nota ainda que a participação dos manufaturados na pauta de exportações passou de 38% para 40% entre 2015 e 2016, mas continua muito aquém dos níveis históricos. A corrente de comércio diminuiu 11% pelo impacto da recessão.
Dos mercados externos brasileiros, dois destaques são a Argentina e a China. A Argentina voltou a ser importante parceiro comercial, o quarto maior comprador, com o qual o Brasil teve superávit de US$ 4,3 bilhões, graças à venda de automóveis, após a retomada do acordo automotivo, selado também com o Uruguai e México, em um momento de forte declínio do mercado doméstico. A China é o maior comprador, principalmente de commodities como soja em grão, minério de ferro, petróleo, açúcar e frango.
Mudanças nesse cenário devem acontecer e influenciar os resultados deste ano. Uma das incógnitas que vai sendo aos poucos desvendada é a posição do novo governo dos EUA, que ontem declarou que vai se retirar da Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), construída pelo ex-presidente Barack Obama. A esperada reação da economia, que já se esboçou em alguns setores em dezembro (Valor, 22/1), vai igualmente afetar os números. Economistas estimam que a produção industrial aumentou até 3% em dezembro, a reboque do salto de 40,6% da fabricação de automóveis, veículos leves, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas reportado pelo Anfavea. Outros indicadores de melhoria do nível de atividade são o fluxo de veículos nas estradas pedagiadas e a produção de aço plano.
Com a reação da economia, espera-se o aumento das importações, avaliado em 5,2% pela Associação de Comércio Exterior do Brasil. Essa tendência pode ser reforçada pelo fortalecimento do real. Quando o governo projetou a repetição dos resultados da balança comercial deste ano, o mercado estimava nas pesquisas Focus que o dólar iria fechar dezembro em R$ 3,50, em linha com a taxa média de R$ 3,49 de 2015. Atualmente, porém, o dólar está ao redor de R$ 3,20 e a cotação projetada para o fim do ano recuou para R$ 3,40. Por outro lado, a previsão de recuperação dos preços das commodities sustenta em boa parte a estimativa da AEB de crescimento de 7,2% das exportações neste ano e de um superávit acima de US$ 50 bilhões. O superávit está em US$ 45,60 bilhões na Focus.
Dados divulgados ontem pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram que as primeiras semanas do ano confirmam mudança do quadro. O saldo comercial medido pela média diária é o dobro do registrado há um ano, mas pouco menos da metade do obtido em dezembro. As exportações, também pela média diária, aumentaram 16% em comparação com janeiro de 2016, mas caíram 10,1% frente a dezembro. Já a média diária das importações aumentou nas duas bases de comparação, 8,2% e 6,6% respectivamente. Se o saldo diminuir, espera-se que seja por um bom motivo - a recuperação da economia.
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