• Há sinais de que perde força a onda de desemprego, mas a persistência deste movimento depende de forma crucial de o Congresso aprovar a reforma da Previdência
Mudanças de ciclo na economia são anunciadas por meio de pequenos sinais. Se elas promoverão uma efetiva alteração de rota na conjuntura, não se sabe ao certo. Desde meados de 2016, por exemplo, destaca o economista José Márcio Camargo no GLOBO de sábado, o ritmo de fechamento de vagas no mercado de trabalho vem caindo. Algo como dizer que o desemprego aumenta, porém numa velocidade mais baixa; a situação piora, no entanto mais devagar.
Não consola quem perdeu o emprego, mas indica que o mercado de trabalho poderá começar a desbastar o saldo do desemprego no final do ano. Existem números que apontam nesta direção. Em abril, segundo o Ministério do Trabalho, atingiu-se o pico de 1,83 milhão de empregos destruídos em 12 meses. As demissões começaram a perder fôlego e, em dezembro, as 462.366 vagas fechadas significaram uma queda de 22,4% em relação ao mesmo mês de 2015.
Há vários indicadores com a mesma sinalização. No pano de fundo, existem diversos fatores. Na política, o governo Temer conseguiu aprovar um pilar-chave do ajuste, o teto constitucional que limita o crescimento do total de despesas primárias à inflação do período de 12 meses encerrado em junho do ano anterior. A queda da pressão inflacionária — em um ano, de 10% para 6% — também melhorou humores e expectativas.
Mas isto não basta, porque falta outro pilar do ajuste: a reforma da Previdência. Se não for feita, o teto levará a que os benefícios previdenciários comprometam parcelas crescentes do Orçamento. Forçará a que a União se endivide ainda mais, e disso resultarão novos rebaixamentos de notas de risco, dólar em elevação, mais inflação e mudança de sinal na evolução dos juros. Abortam-se, desse maneira, os movimentos nos subterrâneos da economia rumo a uma recuperação.
Cabe aos parlamentares entenderem a equação, porque depende deles dar sustentação à tendência de a economia se recuperar. E quanto mais cedo e de maneira mais consistente isso acontecer, melhor, para se começar logo a reduzir o drama do desemprego que atinge mais de 12 milhões de pessoas. Projeta-se que o índice chegará à faixa de 13%, aproximadamente mais um ponto percentual, para se estabilizar e começar a retroceder — sempre a depender da evolução da reforma da Previdência e de ajustes na microeconomia, a serem patrocinados pelo governo.
Há no governo plano de incentivos específicos para tirar do marasmo a indústria da construção civil, muito empregadora. A permissão do uso de contas inativas do FGTS também ajuda na reativação.
Os políticos, por sua vez, precisam ter clareza do que importa na agenda deste ano, para deixar em segundo plano disputas como a da presidência da Câmara e outras questões menores diante do prioritário resgate da economia.
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