Por Arícia Martins | Valor Econômico
SÃO PAULO - A atividade econômica começa a ensaiar sinais mais consistentes de retomada neste início de ano, no que poderia ser o "começo do fim" da recessão mais grave já enfrentada pelo Brasil. A avaliação é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), que elevou ligeiramente a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto em 2017, de 0,3% para 0,4%. Para o primeiro trimestre, a estimativa aumentou 0,2 ponto percentual, para 0,3%.
"A melhor imagem para o momento por que passa a economia brasileira talvez seja a de um barco com forte vento de popa, velas infladas, mas carregando pesadíssimo lastro", afirmam os economistas Regis Bonelli, Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos na edição de fevereiro do Boletim Macro, divulgado com exclusividade ao Valor.
Os fatores que seguram uma reação mais expressiva são numerosos, observa a equipe de conjuntura do Ibre, que cita a incerteza política ainda considerável, a fragilidade das contas públicas, o elevado endividamento de famílias e empresas e a alta taxa de desemprego. Mesmo assim, é possível vislumbrar um cenário mais favorável para a atividade, que deve voltar a crescer nos três primeiros meses do ano em relação ao trimestre anterior, feitos os ajustes sazonais, depois de oito reduções seguidas.
"Esse será um resultado extremamente importante", diz Silvia Matos, coordenadora do boletim, ainda que bastante apoiado na expansão significativa prevista para o PIB agropecuário, de 5,6%. Embora a atividade industrial tenha mostrado desempenho fraco em janeiro, pelas projeções do Ibre, esse componente do PIB também deve registrar alta no primeiro trimestre, de 1,4%.
O ponto negativo ainda é a demanda das famílias, bastante enfraquecida, comenta a economista. Isso mantém a variação dos serviços em terreno negativo. Nas estimativas do Ibre, a atividade do setor vai recuar 0,4% entre o quarto trimestre de 2016 e o primeiro de 2017, enquanto o consumo das famílias diminuiu 0,3% em igual período.
Para o ano a perspectiva de consumo melhorou ligeiramente entre a última edição do boletim e a atual. A previsão anterior, de queda de 0,3%, mudou para alta de 0,2%. Segundo Silvia, a revisão foi feita em função da liberação do saque das contas inativas do FGTS e também da inflação surpreendentemente mais baixa.
O Ibre trabalha agora com alta de 4,4% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2017. A previsão anterior era de avanço entre 4,7% e 4,8%, aponta Silvia, para quem o processo de desinflação foi a maior surpresa positiva em relação ao que se esperava seis meses atrás.
"Isso abre mais espaço para uma redução substantiva dos juros básicos, chave para que possamos eliminar o elevado hiato do produto com que convivemos há pelo menos dois anos", comentam os economistas, referindo-se à distância entre o crescimento potencial e o efetivo.
O ritmo de expansão da atividade terá aceleração gradual daqui até o fim do ano no cenário do Ibre: depois de alta de 0,3% de janeiro a março, a economia deve avançar 0,4% no segundo trimestre, 0,5% no terceiro e, por fim, 0,6% nos últimos três meses de 2017. Em termos anualizados, essa alta corresponde a uma taxa de crescimento de 2,5%, destacam os pesquisadores.
Uma recuperação em velocidade mais comedida tende a ser positiva porque, sem medidas de estímulo à economia em excesso e com inflação controlada e crédito em expansão moderada, a queda do juro básico será consistente, diz a coordenadora do boletim. "Se formos querer colher números altos no curto prazo, existe o risco de entrarmos em um voo de galinha", disse.
Se a redução de juros se traduzir em melhora das condições de crédito para famílias e empresas e se as reformas estruturais como a da Previdência forem aprovadas, a economia pode acelerar mais em 2018, afirma Silvia. Para o instituto, o PIB vai crescer 2,3% no próximo ano.
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