- Blog do Noblat
Manifestação cultural que tem relação direta com a nossa própria identidade nacional, o carnaval talvez seja a maior festa popular do planeta. Os festejos durante os dias de Momo mobilizam os brasileiros de norte a sul do país, mostrando a capacidade de expressão artística do nosso povo e uma alegria genuína que contagia a todos. Poucos países podem se orgulhar por ter um evento dessa magnitude, com tanta diversidade, que diz muito sobre o nosso jeito de ser. O carnaval, definitivamente, tem a cara do Brasil.
Durante a minha juventude, brinquei muitos carnavais ouvindo frevo e fazendo o passo pelas ruas de Recife e Olinda. Especialmente a partir de Pernambuco, essa forma de expressão musical, coreográfica e poética atravessou gerações e se transformou em um dos grandes símbolos do carnaval brasileiro, além de um dos mais emblemáticos patrimônios culturais e imateriais do país. No último dia 9 de fevereiro, aliás, foi comemorado o Dia do Frevo, uma das principais raízes da música nacional e que nos encanta há mais de 100 anos.
Falar em frevo significa destacar, fundamentalmente, a importância histórica do carnaval de rua em algumas regiões do Brasil. Concentrado até há pouco tempo em Recife, Olinda, Salvador e, de forma célebre, no Rio de Janeiro, esse tipo de manifestação carnavalesca vem surgindo a cada ano com grande força em outras cidades brasileiras, especialmente em São Paulo. Desde há muito, os paulistanos soterraram a injusta fama de “túmulo do samba”, que ficou no passado. Somente em 2017, de acordo com dados da Prefeitura, quase 500 blocos de carnaval se cadastraram para ocupar as ruas da maior metrópole do país.
Além do viés popular e de sua inequívoca importância artística, o carnaval exerce um efeito determinante sobre aquilo que se chama de economia da cultura. Segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens (CNC), as atividades turísticas relacionadas ao evento devem movimentar nada menos que R$ 5,8 bilhões em todo o Brasil, impulsionando, sobretudo, o setor de serviços. No Rio de Janeiro, de acordo com dados da Associação Brasileira de Agentes de Viagem (Abav), são esperados mais de 1,1 milhão de visitantes durante o carnaval, o que representará uma arrecadação de R$ 3 bilhões com hospedagem, transporte e alimentação na Cidade Maravilhosa – palco do aclamado e mundialmente reverenciado desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí.
É importante ressaltar que o aquecimento da economia gerado pelo carnaval não se restringe aos dias de folia, mas perdura por todo o ano, gerando emprego e renda país afora. Centenas de milhares de pessoas trabalham diretamente nesse meio, exercendo as mais variadas atividades, todas elas relacionadas de alguma forma à maior festa popular do Brasil. Este é um ponto fundamental, especialmente quando o país dá sinais de que está superando uma das mais profundas recessões econômicas de sua história.
Nos próximos dias, com os festejos do carnaval, repetiremos o ritual de congraçamento, união e de celebração da alegria e diversidade que tão bem caracterizam a nossa sociedade. Neste momento em que o país se reergue e começa a voltar aos trilhos depois de tamanho desmantelo nos últimos anos, é chegada a hora de o povo tomar as ruas, desta vez para comemorar. Bom carnaval a todos. Abram alas para um dos maiores espetáculos da Terra.
*Roberto Freire é ministro da Cultura
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