A decisão da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, no fim de fevereiro, de repetir o corte na taxa básica de juros, a Selic, de 0,75 ponto percentual já sinalizava um certo otimismo da autoridade monetária com a economia. Mesmo que os 12,25% dos juros ainda mantivessem — e mantenham — o Brasil no topo do ranking mundial das taxas reais (deduzida a inflação).
Mas não se pode esquecer que, devido ao desregramento fiscal da era Dilma, vítima de impeachment por este mesmo motivo, a inflação voltou ao perigoso terreno dos dois dígitos, obrigando o novo governo a apertar a política monetária (juros). O governo Temer colhe agora os resultados positivos desse aperto — o qual o governo Dilma se recusou a fazer, por crença ideológica. Como era previsto, errou de fé, jogou o PIB em cava recessão, atropelou a Lei de Responsabilidade Fiscal e, por isso, perdeu o cargo. Recado para futuros governantes.
O otimismo da diretoria do BC está registrado na ata da reunião do Copom divulgada ontem. Nela encontram-se motivos para confiar em alguma possibilidade de no próximo encontro do Conselho, em abril, ser executada uma redução de um ponto percentual nos juros. Talvez com pelo menos uma repetição garantida.
Na avaliação da diretoria do BC, no Copom, são citadas projeções de analistas do mercado, apresentadas semanalmente no Boletim Focus, do banco, de que a inflação estará neste ano e no próximo no centro da meta (4,5%) ou pouco abaixo. O próprio Conselho esperava, no fim do mês passado, uma taxa de 4,2% para 2017. Tanto que é possível, mais à frente, debater-se a redução desta meta, das mais elevadas em termos mundiais.
O banco, segundo a ata, identifica um processo de desinflação “mais difundido” — em que se destacam os alimentos. Fator a estimular a autoridade monetária a cortar fundo nos juros, e ao que se soma persistente nível baixo de atividade da economia, algo que contrariou projeções otimistas feitas no início do segundo semestre do ano passado. Há muita capacidade ociosa a ser utilizada quando a economia iniciar uma recuperação mais forte, para a qual os cortes nos juros são decisiva mola propulsora. O Banco Central estima que os juros poderão estar em 9,5% no fim do ano e em 9% em fins de 2018. Mas reconhece as incertezas no plano externo — a depender da China e principalmente do fator Trump — e no interno, onde o quadro político, na dependência das denúncias da cúpula da Odebrecht, pode afetar a evolução da reforma da Previdência no Congresso, sem a qual o ajuste não se consolidará.
Mas os avanços na economia vão criando uma barreira que pode conter inevitáveis ondas de choque decorrentes de abalos políticos. A depender da maturidade do Congresso diante da reforma, há chances de que o cenário econômico compense, em parte ponderável, o mau humor emanado de revelações a caminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário