- O Estado de S. Paulo
Aloysio vai para o Itamaraty, Serra volta para o Senado, mas a política externa fica na mesma
A nomeação de Aloysio Nunes Ferreira para o Ministério das Relações Exteriores é um troca-troca de tucanos: José Serra sai do Itamaraty e volta para o Senado, seu amigo Aloysio sai da liderança do governo no Senado para o Itamaraty e... a política externa continua a mesma.
A primeira marca importante da mudança do governo Dilma para o governo Temer foi justamente na política externa, quando Serra agiu menos como diplomata (que não é) e mais como político (que sempre será) e deu um chega pra lá no bolivarianismo que afunda a Venezuela e que se metia a dar aulas de democracia ao Brasil. Foi uma guinada clara na diplomacia brasileira.
Apesar de ele não se sentir confortável como chanceler, foi também na curta gestão de Serra que o Itamaraty recuperou algumas das perdas do governo Dilma. Com sua força política e sua proximidade com Temer, ele conseguiu pagar dívidas no exterior e algo mais que dificilmente outro ministro conseguiria: aumento para diplomatas e funcionários, em plena crise fiscal, com a criação de um teto de gastos para a União.
É por isso que, de embaixadores experientes a jovens diplomatas, houve uma torcida por um político para suceder Serra. Um quadro de carreira, por mais que seja uma solução preferível e subjetivamente represente prestígio para a categoria, provavelmente não teria como enfrentar todos os touros a unha. Um político, sim.
Aloysio foi o preferido de Temer desde que Serra, depois de dois meses de angústia e reflexões, pediu demissão. O duro foi convencer o próprio Aloysio, que está sendo arrastado para o Executivo por disciplina partidária e por compromisso com a transição, ou “pinguela”, que Temer representa.
Uma alternativa natural seria o senador e ex-governador Antonio Anastasia, mas ele foi relator do impeachment de Dilma no Senado e empacou numa determinação inabalável: não aceitar nenhum cargo no governo, para não ser acusado de oportunismo. Assim, Aloysio teve de aceitar, mas deixa uma ferida aberta: a ausência de Minas no primeiro escalão.
As principais credenciais de Aloysio são políticas, num momento em que Temer joga suas fichas na reforma da Previdência e na flexibilização das regras trabalhistas ainda no primeiro semestre. O novo chanceler vem da esquerda, foi exilado político, é da linha de frente do PSDB e junta dois fios da rede tucana. Paulista, foi o primeiro “serrista” a assumir o apoio ao mineiro Aécio Neves e foi inclusive seu vice em 2014.
Mas Aloysio não é neófito na área internacional. Exilado na França na ditadura militar, tem bons contatos na Europa. Ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, abriu canais com diplomatas brasileiros, líderes oposicionistas na Venezuela e políticos na América Latina em geral. Tinha até uma animada torcida na embaixada da Argentina. Essas credenciais serão de grande valia num momento de aproximação do Mercosul com a Aliança do Pacífico para enfrentar juntos a incógnita Donald Trump. A intenção é fazer desse limão uma limonada, aproveitando as brechas que Trump escancara para recolocar o Brasil no jogo.
O novo chanceler, porém, tem o mesmo problema do próprio governo Temer: o tempo corre contra ele. Não é possível planejar grandes voos, já que 2017 é ano de reformas e 2018 será ano de sucessão presidencial. O desafio é manter o processo de normalização da política externa, assim como Temer concentra suas energias no processo de normalização da economia. Ou seja: rearrumar o País para o futuro governo. Aliás, para o próprio futuro.
Dívida. De Temer a um interlocutor assíduo: “Eu me sinto em dívida com o Mariz”. Referia-se ao advogado e velho amigo Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.
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