Daniela Meibak, Rodrigo Polito, Lucas Marchesini e Marcos de Moura e Souza | Valor Econômico
SÃO PAULO, RIO, BRASÍLIA E BELO HORIZONTE - Num momento em que a Operação Lava-Jato vive seu ápice, com a delação da Odebrecht, e é ameaçada pela reação legislativa liderada por dezenas de parlamentares atingidos, as manifestações de apoio à maior investigação de corrupção da história do país, realizadas ontem em diversas cidades do país, tiveram baixa adesão se comparadas aos atos anteriores - o último promovido em dezembro de 2016. Além da Lava-Jato estavam na pauta dos manifestantes o combate à anistia ao caixa dois, à lista fechada nas eleições e ao foro privilegiado de políticos - temas que chegaram com força ao Congresso como resposta do sistema político, de um lado, e da sociedade civil, do outro, aos resultados da força-tarefa.
Em São Paulo, Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua, um dos movimentos que convocaram os protestos, admitiu que a manifestação de ontem foi menor do que as realizadas em 2016, durante a campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff. Algo que ele considerou natural, pois há muitos assuntos misturados, como o apoio à Lava-Jato e o fim do foro privilegiado. "Precisamos da sociedade cobrando os representantes todos os dias. Chega de cacicagem na política brasileira", afirmou.
Chequer disse também que o presidente Michel Temer fez algumas escolhas infelizes para compor sua equipe e que o movimento não está satisfeito com o governo. "Já melhorou o fato de ele afastar da primeira linha quem se tornar réu. Esperamos que daqui para frente as escolhas sejam melhores e não apenas de pessoas próximas, como acabou acontecendo na própria indicação do ministro do STF [referência ao recém-empossado ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes]", afirmou. "Esperamos que isso melhore, não estamos satisfeitos".
Chequer afirmou que é importante Temer esclarecer sua posição em relação à anistia do caixa dois, ao foro privilegiado e à lista fechada para eleição, pontos que, segundo ele, levaram manifestantes à Avenida Paulista ontem.
O líder do Movimento Brasil Livre (MBL) - que contesta a reforma política debatida no Congresso com previsão de lista fechada e financiamento público de campanha - Kim Kataguiri afirmou que o ato de ontem contou com o número aproximado de participantes de dezembro. "Evidente que não podemos esperar a mesma média das manifestações pelo impeachment, porque foi uma bandeira histórica, abrangente, que reuniu o país em uma pauta única", disse.
Apoiador de uma candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), à Presidência da República em 2018, o coordenador do MBL criticou os tucanos Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin. De cima de um carro de som do movimento na avenida Paulista, não poupou os presidenciáveis tucanos: "Alguém vai sair falando 'Aécio guerreiro do povo brasileiro' se ele for preso? Claro que não". Kataguiri atacou a lista fechada, os "supersalários", o foro privilegiado e a anistia ao caixa dois.
O público em frente ao carro de som do Vem Pra Rua era maior do que o que estava em frente ao do MBL. Outro grupo, o Movimento Acorda Brasil, com 83,9 mil seguidores no Facebook, também foi à Paulista com carro de som, para defender um país "livre de corrupção" e contra a reforma da Previdência. Seus líderes confeccionaram 2 mil máscaras - financiadas por contribuições dos integrantes, para serem distribuídas aos manifestantes - com os rostos do juiz Sérgio Moro, do procurador Deltan Dallagnol e uma montagem do ex-presidente Lula com a face de um zumbi.
O ato na Paulista seguiu pacífico durante a tarde. A Polícia Militar de São Paulo não divulgou a quantidade de participantes.
Em Brasília a adesão não foi muito diferente. Cerca de 500 pessoas se encontraram na Esplanada dos Ministérios para declarar apoio à operação Lava-Jato e pedir o fim do foro privilegiado. O ato começou pouco depois das 10h e terminou ao meio-dia. A manifestação, que transcorreu de forma pacífica, também se posicionou contra o aumento do Fundo Partidário e a votação em lista fechada.
Já no Rio de Janeiro estima-se que 300 pessoas tenham se reunido na praia de Copacabana. O ato contou com três carros de som, bolas de ar gigantes com a marca do Vem Pra Rua e várias faixas. Uma delas com a pergunta: "Qual seu bandido político favorito?" Entre os manifestantes estavam o ex-deputado Fernando Gabeira e artistas, como o comediante Marcelo Madureira. Muitas pessoas vestiam camisa amarela e da seleção brasileira.
Em Belo Horizonte, o ponto de encontro foi na Praça da Liberdade, de manhã. Muitos seguravam faixas em defesa do juiz Sergio Moro e contrárias à proposta de eleição com lista fechada.
Do alto do carro de som do grupo Patriotas, um rapaz, ao microfone, anunciava: "O povo está pedindo a volta dos militares". Poucos pareciam prestar atenção. No carro de outro grupo, o Vem Pra Rua, foi estendida uma grande foto do ex-presidente Lula (PT) atrás das grades e um dos oradores puxava o coro conhecido: "A nossa bandeira jamais será vermelha". No mesmo local, houve críticas ao governador Fernando Pimentel (PT), alvo da Operação Acrônimo e também ao governo Michel Temer.
"O Henrique Meirelles (ministro da Fazenda) tá falando em aumentar impostos e eu não vi nenhum corte importante no governo", reclamava uma oradora.
Com camisetas amarelas da seleção, havia entre os participantes muitos homens e mulheres acima dos 60 anos. Três delas, ao passarem em frente ao gradil do Palácio da Liberdade, onde Pimentel despacha, berravam: "Vai para a cadeia, Pimentel, cadeia."
Uma participante pendurou camisetas brancas entre as palmeiras da praça com a foto de seu candidato a presidente em 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). "É melhor JAIR se acostumando. Bolsonaro 2018", lia-se na camiseta. Até às 11h30, pelo menos, ela contou à reportagem que não tinha encontrado muitos interessados no souvenier.
A assessoria de imprensa da Polícia Militar de Minas informou que a instituição não fez estimativa de público. Antes das 13h, o protesto começava a se esvaziar. (Com Folhapress)
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