Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - Citada em depoimentos como intermediária de entregas de dinheiro ilegal da Odebrecht para campanhas, a cervejaria Petrópolis, fabricante da marca Itaipava, aparece nos registros oficiais da Justiça Eleitoral como doadora de R$ 88,2 milhões em 2014 para 329 candidatos de 23 partidos. Foi a sexta maior financiadora.
Embora só tenha plantas industriais em cinco Estados (Bahia, Mato Grosso, Pernambuco, Rio e São Paulo), as doações registradas em nome da cervejaria beneficiaram candidatos de 14 unidades da federação.
Conforme os dados disponíveis na plataforma Às Claras, projeto da Transparência Brasil alimentado com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as doações da empresa nas últimas eleições beneficiaram 5 presidenciáveis, 14 candidatos aos governos estaduais, 5 postulantes ao Senado, 106 candidatos a deputado federal e 199 inscritos nas disputas por vagas de deputado estadual.
Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no processo movido pelo PSDB contra a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, Marcelo Odebrecht teria dito que a empreiteira da qual foi presidente se utilizou de terceirização para o repasse de recursos, entre elas doações trianguladas por meio da cervejeira.
Conforme o depoimento de outro delator, o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior, que falou ao TSE na última sexta no Rio de Janeiro, as terceirizadas representaram cerca de 20% do total de R$ 200 milhões que o conglomerado transferiu para agentes políticos nas eleições de 2014. Outros 20% derivaram de "caixa 2" e 60% teriam sido doações legais. O volume das doações do Grupo Petrópolis sugere que a cervejeira foi uma das principais parceiras da construtora nesta triangulação.
As declarações corroboram investigações da Operação Lava-Jato e delações de outros personagens envolvidos em denúncias. Uma planilha da Odebrecht apreendida pela Polícia Federal, por exemplo, mencionava o pagamento de R$ 19,7 milhões a 19 partidos pelo "parceiro IT". Seria uma referência à Itaipava.
No ranking de recebedores de recursos, quem mais ganhou foi a ex-presidente Dilma Rousseff, associada à doação de R$ 17,5 milhões. Atrás dela estão Paulo Souto (DEM) e Rui Costa (PT), que disputavam o governo da Bahia, com R$ 5,6 milhões e R$ 4 milhões, respectivamente. O governador do Mato Grosso, Pedro Taques (ex-PDT, atualmente no PSDB), recebeu R$ 3 milhões.
Na lista de doações a comitês e diretórios, quem lidera é o Comitê Financeiro Único do PMDB do Rio de Janeiro, vinculado a um repasse de R$ 10,8 milhões. Na sequência estão a Direção Nacional do DEM, com R$ 6,1 milhões, e a Direção Nacional do PT, com o registro de R$ 5,7 milhões.
Os maiores montantes foram reservados para as eleições de governadores (R$ 34,8 milhões) e para a presidencial (R$ 34,5 milhões). Na principal disputa, apenas os nomes de Dilma e do Pastos Everaldo (PSC) aparecem como recebedores. No caso dele, o registro é de R$ 60 mil. Os demais repasses foram distribuídos por diretórios nacionais ou comitês de campanha de sete siglas: DEM, PT, PMDB, PSB, PSC, PDT e PTB.
Entre os canditados a senador, os maiores valores estão associados a Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), com R$ 1,3 milhão, e Otto Alencar (PSD-BA), com R$ 1,1 milhão. No caso dos postulantes à vaga na Câmara, o ranking é liderado por João Fernando Coutinho (PSB-PE) e Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ), filho do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, cada um com R$ 500 mil.Em nota, o Grupo Petrópolis afirmou que as doações "seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão devidamente registradas".
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