- O Estado de S. Paulo
Há providências que deveriam ser imediatas e que ajudariam a descortinar algum futuro
Passado o torpor em que o País mergulhou ao descobrir o grau de degeneração das instituições e da política a partir das revelações da cúpula da Odebrecht, é chegada a hora da reconstrução.
A Páscoa, celebrada neste domingo, tem o sentido da ressurreição. Nada mais apropriado para uma nação que atestou em áudio e vídeo sua morte institucional.
Vai levar tempo e ninguém espera por um milagre. Mas há providências que deveriam ser imediatas e que ajudariam a descortinar algum futuro.
A delação do núcleo Odebrecht é um divisor de águas da Lava Jato. Daqui para a frente, outras colaborações judiciais só deveriam ser seladas se ajudarem a completar peças do que foi revelado pela maior empreiteira do País.
Isso porque agora não faltará gente desesperada querendo pegar uma boia de delação para se salvar. Isso interessa às investigações? Não. O que importa é fechar os casos já abertos, robustecer as provas, condenar quem mereça ser condenado e absolver quem eventualmente tiver de ser absolvido.
Sob essa lógica, algumas delações são essenciais. Se Antonio Palocci se dispuser a colaborar, pode fechar o círculo que leva a Lula, a quem os delatores da Odebrecht atribuem o recebimento de vantagens variadas e corrupção ativa ao determinar o uso de estruturas do Estado, como o Ministério da Fazenda e o BNDES, para atender aos interesses das empreiteiras em troca de propina.
Palocci é apontado como intermediário de dinheiro vivo para Lula. Se o ex-ministro confirmar o arranjo, todas as negativas feitas pelo petista ao longo dos anos – e a balela de que “não há provas, só convicção” – cairão por terra.
Assim como o ex-ministro, há outros que podem completar lacunas importantes. Eduardo Cunha em relação ao PMDB e a Michel Temer. João Vaccari sobre a campanha de Dilma Rousseff em 2014. O recall da Andrade Gutierrez sobre a propina na obra da Cidade Administrativa de Minas no governo de Aécio Neves (PSDB). E Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da Dersa que sabe muito sobre os governos dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin em São Paulo.
Outras delações que, dado o que já se sabe, só podem beneficiar os próprios enrolados, deveriam ser descartadas. Entram nesse bloco os integrantes da quadrilha de Sérgio Cabral, por exemplo.
A segunda urgência é o Supremo Tribunal Federal apresentar ao País um plano de trabalho para deglutir o banquete indigesto oferecido pelos Odebrecht e seus funcionários. O silêncio de Cármen Lúcia diante dos terabytes de corrupção que estão nos escaninhos do tribunal que preside já se tornou ensurdecedor. Não é vida normal, ministra. O País está parado à espera do que vai acontecer.
A terceira providência é o afastamento imediato dos ministros de Temer citados. O critério anunciado pelo presidente – sai provisoriamente quem for denunciado e definitivamente quem for réu – ruiu diante do que foi revelado. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, acusado de levar dinheiro vivo para campanhas do PMDB, não tem condições de comandar as reformas urgentes e necessárias.
Por fim, tem de ser aberta uma investigação sobre as traficâncias praticadas por Lula e Dilma no BNDES. Por que o banco ainda não tem um braço da Lava Jato? As revelações sobre financiamentos dados à Odebrecht para negócios em outros países ou ao porto de Mariel, em Cuba, não permitem mais tergiversar sobre isso.
É impossível prever o futuro do Brasil e das instituições. Que a Páscoa seja, então, ponto de partida de decisões que estão ao alcance de quem tem ainda alguma autoridade a exercer.
Enquanto isso, sigamos o conselhos de Fernando Pessoa e comamos chocolates. Boa Páscoa.
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