Sete anos após revelação do GLOBO, construtor diz que tríplex era mesmo do líder petista
- O Globo
-SÃO PAULO- Preso desde setembro do ano passado, o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, afirmou que o tríplex no Guarujá era do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, o imóvel já estava reservado para o petista antes mesmo da negociação com a Bancoop, cooperativa que repassou o prédio para a empreiteira após problemas financeiros.
— O apartamento era do presidente Lula desde o dia que me passaram para estudar o empreendimento da Bancoop. Já foi me dito que era para o presidente Lula e sua família. Que eu não comercializasse e tratasse aquilo como coisa do presidente Lula — disse Pinheiro, afirmando ainda que a empresa só não teve prejuízos na reforma do apartamento porque as despesas foram pagas com a negociação de propina num contrato com a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Ao longo do depoimento, Pinheiro deu detalhes do processo de compra e venda do apartamento. Segundo ele, inicialmente tratava-se de um imóvel de 80 metros quadrados, mas, logo depois, a família do ex-presidente decidiu por um de 240 metros.
Pinheiro contou que João Vaccari o procurou em 2009 pedindo que a OAS assumisse empreendimentos da cooperativa, que beirava a insolvência. O empreiteiro acabou aceitando a proposta e foi surpreendido por um pedido para que a empresa atuasse especificamente num empreendimento no Guarujá, litoral de São Paulo:
— Quando ele (Vaccari) me disse que tinha um imóvel no Guarujá, eu respondi que não tinha interesse porque nossa filosofia era atuar só em capitais. Ele explicou, então, que estava me chamando pela relação que tinha com o ex-presidente e o PT, já que no Guarujá havia uma unidade que pertence à família do presidente, declarada num apartamento tipo (comum), mas que a família vai ficar com o tríplex. Eu fui ao Paulo Okamoto para confirmar e ele confirmou tudo.
Léo Pinheiro disse ainda que a customização do apartamento, cujas despesas eram lançadas numa contabilidade informal, foi feita por solicitação de Lula e da ex-primeira dama Marisa Letícia. Os pedidos teriam sido feitos durante a visita que Lula e Marisa fizeram junto com o empresário no apartamento do edifício Solaris. Reportagem do GLOBO de 2010 citada por Léo Pinheiro em depoimento
— Todas as modificações ocorreram por solicitação no dia da visita que fui com o presidente e a ex-primeira-dama no tríplex. Foi fruto da nossa visita. Foi determinado que fizéssemos a modificação — relatou o empreiteiro.
Ao afirmar que o ex-presidente Lula é mesmo dono do tríplex, Léo Pinheiro confirmou informações publicadas pelo GLOBO desde 2010. Em uma reportagem daquele ano, a assessoria de imprensa da Presidência da República confirmava que o imóvel pertencia a Lula. Desde o início das investigações, no entanto, o ex-presidente tem dito que apenas comprou cotas de um apartamento comum no 14º andar, chegou a analisar a mudança para o tríplex, mas desistiu.
A primeira reportagem que liga o ex-presidente ao tríplex foi publicada em 10 de março de 2010, quando a OAS assumiu dezenas de obras paradas da Bancoop, que passava por problemas financeiros. O texto dizia que o casal Lula da Silva estava na fila de cooperados que aguardavam há cinco anos a conclusão da obra. Procurada, na época, a Presidência “confirmou que Lula continua proprietário do imóvel”.
EMPRESÁRIO CITA REPORTAGEM
No interrogatório de ontem com Moro, o próprio Léo Pinheiro citou a reportagem:
— Em 2010, O GLOBO trouxe uma reportagem enorme sobre esse empreendimento dizendo que o tríplex pertencia ao Lula. Fiquei preocupado e procurei o (Paulo) Okamoto. Perguntei como deveria proceder, já que o tríplex estava em nosso nome e a aquisição por parte da família do presidente era de cotas e não tinha havido adesão para o empreendimento. O Vaccari conversou comigo dizendo que esse apartamento... a família tinha a opção de um apartamento tipo (uma unidade normal), tinham comprado cotas, e que eu não comercializasse o tríplex.
Em dezembro de 2014, outra reportagem do GLOBO dizia que a OAS havia terminado a obra do Solaris antes dos demais edifícios herdados da Bancoop. Funcionários do condomínio relataram que a ex-primeira-dama Marisa Letícia “providenciou a decoração do local” e que a família havia solicitado a instalação de um elevador privativo.
Em agosto de 2015, o jornal informou que uma corretora de valores imobiliários chamada Planner repassou dinheiro para a OAS na finalização da obra do edifício Solaris. No período, a Planner havia recebido da GDF, empresa usada para lavar dinheiro do doleiro Alberto Youssef, um valor de R$ 3,7 milhões, supostamente para o tríplex.
Lula questionou na Justiça a publicação da reportagem e moveu um processo contra jornalistas do GLOBO em que pedia indenização por danos morais.
Em dezembro de 2015, o pedido foi negado pela 48ª Vara Cível do Rio. Em setembro do ano passado, a 14ª Vara Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio confirmou a decisão em primeira instância. O desembargador Gilberto Guarino, relator do caso, entendeu que o jornal não fez juízo de valor e apenas divulgou a existência de investigações contra o ex-presidente.
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