Sócio da OAS revela que Lula o instruiu a dar fim a provas de pagamento de propina ao PT
Cleide Carvalho, Gustavo Schmitt, Tiago Dantas e Dimitrius Dantas | O Globo
A ordem do número 1
Léo Pinheiro, da OAS, diz a Moro que Lula pediu destruição de provas de propina ao PT
-SÃO PAULO- Numa espécie de delação informal, após meses de expectativa sobre o que poderia falar a respeito do esquema de corrupção envolvendo empreiteiras e o PT, o empreiteiro Léo Pinheiro, sócio da OAS, saiu para o ataque contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem meias palavras, o empresário afirmou ao juiz Sérgio Moro que Lula pediu a ele destruição de provas referentes a pagamento de propina para o partido. No depoimento, Pinheiro relatou em detalhes o pedido feito por Lula:
— Eu tive um encontro com o ex-presidente, em junho (de 2014), tenho isso anotado na agenda, são vários encontros, onde o presidente textualmente me fez a seguinte pergunta: “Léo, o senhor fez algum pagamento a João Vaccari no exterior?” Eu (Léo) disse: “Não, presidente, nunca fiz pagamento a essas contas que nós temos com Vaccari no exterior”. (Lula): “Como você está procedendo os pagamentos para o PT?” (Léo): “Estou fazendo os pagamentos através de orientações do Vaccari de caixa 2, de doações diversas que nós fizemos a diretórios e tal”. (Lula): “Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com João Vaccari com vocês? Se tiver, destrua”.
PETISTAS: NÃO HÁ PROVAS
Amigo muito próximo de Lula, Léo Pinheiro manteve a discrição sobre ex-presidente até agora. Ele foi preso pela primeira vez em 2014. Tentou delatar. Voltou à cadeia, em setembro de 2016, e de novo está negociando acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Advogado de Lula, Cristiano Zanin questionou o empresário várias vezes sobre os termos do acordo que está em andamento e chegou a pedir a suspensão do depoimento. Moro negou o pedido causando irritação em Zanin, que chegou a elevar o tom de voz em alguns momentos. O clima esquentou, e o juiz Sérgio Moro pediu que a defesa fosse mais respeitosa com o depoente:
— O senhor (advogado de Lula) está tentando induzir a testemunha, peço que seja mais educado.
Líderes petistas minimizaram os efeitos e a credibilidade da acusação de Léo Pinheiro contra Lula. O discurso adotado é que o empreiteiro não tem como comprovar a declaração de que o líder petista lhe pediu para destruir provas relacionadas a pagamento de caixa 2 ao partido e a fala ficaria no “dito pelo não dito”.
Ao mesmo tempo, a legenda pretende manter a tática do enfrentamento e chegou até a marcar uma reunião de sua Executiva em Curitiba, no dia 3 de maio, dia do depoimento de Lula a Moro no processo sobre a propriedade do tríplex do Guarujá.
Um outro argumento dos petistas é que Lula, por ser alvo de denúncias há mais de dois anos, teria encontrado um discurso para responder às acusações e já teria sofrido quase todo o desgaste em decorrência da Lava-Jato.
Léo Pinheiro, que falou sobre orientações de Vaccari para caixa 2
— Todo delator tem que seduzir o juiz e o Ministério Público, então fala o que querem ouvir. Por isso ele citou uma possível obstrução à Justiça. Agora, é só a palavra dele — afirma o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).
POR QUE O APELIDO BRAHMA PARA LULA
Para o parlamentar, o depoimento de Léo Pinheiro ao juiz Sérgio Moro deve ser visto com ressalva.
— Qual a prova do crime? Como ele vai provar essa acusação? — questiona o líder petista.
Em um momento curioso do depoimento a Moro, Léo Pinheiro explicou por que chamava Lula de “Brahma” em trocas de mensagem. O apelido, conta o empresário, é uma alusão ao slogan utilizado por uma marca de cerveja desde os anos 1990 em suas propagandas.
— Essa expressão (Brahma) era por causa de uma propaganda que dizia que a Brahma era a número 1.
Na sequência, Moro pergunta por que ele não se referia ao petista pelo seu nome. Léo Pinheiro responde que usar apelidos era uma prática para “não expor as figuras públicas”.
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