- Folha de S. Paulo
Teremos mesmo Lula contra Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018? Improvável.
Em condições normais, pesquisas eleitorais feitas com muita antecedência indicam mais o "recall" de cada candidato do que uma real intenção de voto, que só costuma materializar-se nas poucas semanas que antecedem o pleito. No caso específico desta eleição, que ocorrerá sob o impacto da Lava Jato, as sondagens servem ainda para tentarmos inferir o que vai na alma dos cidadãos.
O movimento geral é de descrença na política. À exceção de Lula, do qual falaremos mais adiante, candidatos "mainstream" como Aécio e Alckmin sofreram pesadas perdas. Até Marina, vista como "pura", registrou declínio nas intenções de voto.
Saem-se bem ou gente que frequenta o noticiário no papel de paladino da Justiça, caso dos juízes Sergio Moro e Joaquim Barbosa, ou políticos que, por alguma razão, conseguem vender a si mesmos como antiestablishment, categoria em que se encontram Bolsonaro e Doria.
São indicações de que a população está em busca de um candidato não apenas livre das acusações da Lava Jato como também desligado da política tradicional. Vínculos com o combate ao crime tendem a ajudar.
Resta, então, explicar o fenômeno Lula, que desponta como campeão de votos mesmo sendo o mais tradicional de todos os políticos citados e ter sido apontado como chefe da quadrilha pelo Ministério Público.
Meu palpite é que Lula, a exemplo de outros líderes carismáticos como Ademar de Barros, Maluf, Reagan e Trump, se tornou um candidato teflon, que resiste a denúncias que se revelariam fatais para políticos normais. É como se o eleitor se dissesse, "bem, já que são todos iguais mesmo, vou pelo menos ficar com o que melhorou a minha vida". Não chega a ser uma posição irracional, ainda que peque por cinismo. Duvido, porém, que esse quadro permaneça inalterado até outubro de 2018.
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