quarta-feira, 3 de maio de 2017

Vem pro Palácio | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

O presidente do Brasil em 2018 ainda não existe

Definitivamente, é o que pensam intelectuais e políticos de diferentes ideais, o Brasil não vai ter que se angustiar diante de uma cédula de disputa presidencial que mandará escolher entre Lula, Bolsonaro, Marina, Alckmin e Ciro, entre outras mesmices desanimadoras da esperança alheia. Nessas hostes, há convicção que o novo vai surgir, apesar de todos os Datas - Folha, Ipsos, Vox, MDA, Ibope, seus métodos e perguntas dirigidos ao que se ouviu falar, não ao que quer ou acha o eleitorado. Institutos, a cada eleição, são os vilões de boa parte das distorções.

Já estão sendo agora: entre os que analisam os dados, constata-se que não estão trabalhando com a teoria da intencionalidade, mas do que rola por ai, qual o barulho que faz - é a teoria de encostar o ouvido no asfalto para saber o que diz.

Como o recente Vem pra Rua, começa a se mover a partir de Brasília o Vem pro Palácio, para criar o novo, rejuvenescer, sair da crise. Forma como o sociólogo e ex-deputado do PT, Paulo Delgado, define o movimento a favor da candidatura avulsa que ele próprio, com 20 outros constituintes de 88, levam adiante.

Nesse grupo estão políticos e não políticos, mas nenhum pertencente a cargos, funções ou mandatos do mundo atual. Reúne pessoas como Adilson Mota, Roberto Brant, Nelson Jobim, Pedro Simon, Gustavo Krause e o próprio Delgado, que, com outros 13, tentarão mostrar que a política não morreu, ainda.

Realista, o grupo reconhece que não há tempo para mudanças de legislação que permitam a candidatura avulsa, portanto, para 2018, os candidatos, embora não sejam filiados a um partido, hoje, se apresentariam via partido político, não há outra alternativa. "Seremos candidatos avulsos à disposição dos partidos, e vamos ter também nomes para disputar a Presidência da República", conta Paulo Delgado, estimulador dos primeiros passos do grupo.

O propulsor do movimento de candidatura avulsa diz que "essa roupa que está aí já não nos serve mais". Na sua opinião, Lula e Bolsonaro são considerados a mesma coisa. "Um manipula os oprimidos, outros manipula os opressores".

Não é o sentimento atual do Brasil seguir por esses caminhos que os Datas estão mostrando. "As pesquisas, hoje, são circuladoras de boatos. São intimidadoras. As pessoas não querem ser partidárias. Está cada vez mais claro que Lula e Bolsonaro são iguais", afirma.

Para Delgado, Lula saiu do hit parade dos perseguidos, os 30% que lhe são atribuídos, a seu ver, são uma mistificação.

"Veja a maionese azeda fabricada pelas pesquisas: quase 40% não votam em ninguém; 70% querem sair do Brasil; os que escolhem alguém, escolhem contra alguém, são a favor do contra! Lula, o mais debilitado é o mais mobilizado, e em guerra contra o ostracismo e o encarceramento. Como não ser citado se a única coisa que faz é mobilizar as pessoas em sua defesa?", argumenta Paulo Delgado, sublinhando que ele assim se comporta há 30 anos.

Por sinal, nas manifestações do primeiro de maio, o presidente do PT, Rui Falcão, e o líder da bancada, Carlos Zarattini, anunciaram apresentação de emenda constitucional para antecipar eleições presidenciais para outubro próximo. Está claro que esperam aproveitar os 30% que Lula ainda teria e o fato de que ainda não é ficha suja. Portanto, crentes nas pesquisas.

Mas, segundo o raciocínio corrente no grupo da candidatura avulsa, esses 30% não existem, se considerar os que não votam em nenhum dos que lhes foram apresentados, os que querem sair do país, os que acham seu governo corrupto, os 70% que querem mudar o Brasil, serão menos de 10% para quem está na frente.

"As pesquisas", diz o sociólogo, "refletem o estresse da competição e das dúvidas inclusive entre os Institutos. Não conseguem captar desejos subjetivos, nem negar direitos evidentes. São instrumentos de discriminação, velhas fórmulas de servir à competição tradicional", afirma, estabelecendo aí, provavelmente, a razão pela qual não incluem nomes novos entre os apresentados à consulta.

"Saturaram o cidadão com o interesse que não é o dele, assim não captam a nova disposição das pessoas para se submeterem a instituições arcaicas: partidos e sindicatos como temos no Brasil". Esse tipo de pesquisa, segundo avalia Paulo Delgado, não leva tudo isso em conta e é mera exibição de números. "As pesquisas estão atrás de quem gosta do Estado. O Brasil vai ser governado em 2018 pela nação, por um candidato avulso".

Pode-se concluir que, para esse grupo, o presidente do Brasil em 2018 ainda não existe.

"Está definitivamente erodido o entendimento da sociedade via pesquisa de intenção de voto. O mundo é de abundância. Não há mais obediência a quem prega a escassez, inclusive de candidatos. Nós vamos avançar cada vez mais com outros personagens".

Os ex-constituintes desse movimento podem lançar um manifesto e começar por aí a tornar pública a ideia da renovação política pela candidatura avulsa. Sua eficácia como elemento novo para superar o impasse dessa crise política está, para eles, comprovada. No manifesto, candidatura avulsa já em 2018.

Com o fim da coligação proporcional, a cláusula de barreira e 20% de candidaturas avulsas, e o compromisso de fazer uma reforma da Constituição pelo plenário eleito em 2018, é a formulação objetiva do movimento. "Quem vencerá em 2018 é o candidato avulso, comprometido com a austeridade, sem gabinete e sem demagogia à direita e à esquerda", assegura.

Tocar isso e esquecer as pesquisas. "As pesquisas trabalham com o automatismo psicológico. Elas falam da mesma coisa, então recebem a mesma resposta. Você não pergunta a uma pessoa se alguém vai para o céu se ela não morreu. Não adianta perguntar algo que não está na vida, é uma manipulação".

A convicção de que surgirão candidatos que representem realmente uma opção ao eleitor consciente e informado está presente em todas as análises do grupo. Praticamente todos eles, quando foram eleitos, na Constituinte, eram detentores do chamado voto de opinião, a escolha que não cabe na camisa de força partidária. Mas não apontam, ainda, o candidato a presidente. "Não apareceu um Trump brasileiro ainda, mas ainda não apareceu também um Mandela brasileiro. Ambos vão aparecer".

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