Por Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que a decisão de seu partido de permanecer na base do governo Michel Temer foi de "cautela" e afirmou que os tucanos estão apoiando uma gestão que "está fazendo reformas". FHC reconheceu que há "muitas acusações" contra Temer, mas disse que é preciso o carimbo da Justiça contra o presidente para o PSDB repensar sua posição. Para o ex-presidente, se a sigla deixar o governo pemedebista, "pode complicar mais do que ajudar".
"Temos responsabilidades e apoiamos um governo que está fazendo reformas", disse Fernando Henrique ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, no intervalo de um seminário sobre produtividade e competitividade promovido pelo Instituto FHC, na capital paulista. "Se formos embora pode complicar mais do que ajudar. O que acontece quando um partido sai de repente? Cria mais dificuldades", disse.
FHC negou que o PMDB tenha vinculado um eventual apoio ao PSDB na disputa presidencial de 2018 à permanência no governo. "Eu não tenho plano eleitoral nenhum. O PSDB não tem que pensar em eleição. Eleição é em 2018. Agora tem que pensar em como se resolvem as questões do Brasil", disse.
Questionado sobre a contradição de o PSDB ter apoiado o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff sob a alegação de que a gestão petista era corrupta e, ao mesmo tempo, apoiar o presidente Temer, que é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal, FHC afirmou que é preciso decisão da Justiça para que seu partido julgue o presidente.
"Sei que há muitas acusações [contra Temer], algumas quase evidentes, mas é preciso que haja o carimbo da Justiça para que possamos dizer: é verdade. A cada dia [surge] um rumor novo. Não posso guiar politicamente o partido em função de rumores".
O ex-presidente afirmou que "há muitas acusações contra Temer", mas repetiu que a Justiça ainda não se manifestou contra o presidente. "Acho também que tudo está condicionado ao que vier a acontecer. Havendo algum pronunciamento da Justiça não há o que defender", disse. "Espero que o partido seja capaz de entender esse momento. Se for verdadeiro o que está sendo dito [denúncias contra Temer], o partido não pode ficar no governo".
FHC minimizou o racha dentro do PSDB com a decisão de ficar na base de Temer, que culminou com a saída de seu ex-ministro da Justiça Miguel Reale Junior, um dos autores do pedido do impeachment de Dilma. O ex-presidente disse que "todo partido é dividido", mas ponderou que o PSDB precisa "olhar com mais atenção a reação da base, do partido, da sociedade".
O ex-presidente criticou o atual sistema político como "esgotado" e disse que é preciso refazer as instituições. "Ou se refaz ou vamos deixar o risco de Brasil que eleja pessoas que não deem conta do recado", afirmou. "A preocupação eleitoral não deve primar sobre nada. Com o grau de insatisfação popular, a população sabe Deus em quem vai votar. Isso é um perigo. Abre espaço efetivamente para aventureiros, salvadores da pátria", afirmou.
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