Partido contraria imagem de indeciso, escolhe ficar no governo Temer, mas com isso vai contra a tendência de parte do eleitorado de pedir renovação
É parte do folclore que acompanha a história do PSDB a imagem de um partido indeciso, sempre estacionado sobre o muro, como um tucano, ave que simboliza a legenda. Mas não foi o que aconteceu nas quatro horas de discussão promovida pela Executiva Nacional do partido, na segunda, para decidir se ficaria ou sairia do governo Michel Temer, depois da delação de Joesley Batista e desdobramentos, incluindo a absolvição da chapa Dilma-Temer, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por excesso de provas, diz-se com ironia.
Não houve indecisão, ao contrário do que levava a crer a fama do partido. Apesar de pressões nas redes sociais e dos “cabeças pretas” do partido, parlamentares e lideranças mais jovens, o PSDB decidiu manter o apoio a Temer e os cargos no governo. No primeiro escalão, os ministros Aloysio Nunes, das Relações Exteriores; da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy; e das Cidades, Bruno Araújo.
Se estava no muro, dele desceu, mas do lado errado. O apoio às reformas — a trabalhista, da Previdência e outras — justificou o voto vencedor dos “cabeças brancas", à frente deles o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
O equívoco do partido é participar de um jogo típico da velha política, um toma lá dá cá com todas as possibilidades de ser rejeitado com ênfase pelos eleitores em 2018. Os tucanos podem ter iniciado a caminhada para a derrota nas eleições gerais do ano que vem.
Atrás do muro tucano, teriam ocorrido acertos tenebrosos. Como sucumbir à chantagem de caciques do PMDB, alinhados a Temer, interessados em preservar o partido no governo, garantindo, como moeda de troca, a blindagem na Casa do senador Aécio Neves, presidente afastado da legenda, denunciado ao Supremo por corrupção passiva e obstrução de Justiça, depois da delação de Joesley Batista.
Outra moeda em jogo seria o apoio do PMDB nas urnas de 2018, algo que interessa o governador Geraldo Alckmin, o nome mais bem posicionado no momento para disputar o Planalto pelo partido, mais uma vez.
Mas não faltou, no encontro da Executiva, um traço da folclórica indecisão tucana, com a a atitude contraditória de contrabalançar o apoio a Temer com a indicação para a bancada na Câmara votar pela aceitação da denúncia contra o presidente a ser feita pela Procuradoria-Geral da República.
Teria sido mais simples, como queriam os “cabeças pretas”, marcar a defesa da ética com a saída do governo, porém mantendo o apoio às reformas. Mas a velha política não dá espaço para o óbvio.
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