Governo e oposição ainda traçam estratégias para a votação da denúncia contra o presidente Temer na Câmara. O Planalto teme se fragilizar para as reformas. Com isso, a sessão pode não ocorrer no próximo dia 2, como previsto.
Denúncia contra Temer: votação em dúvida
Nem governo nem oposição garantem que Câmara decida questão na quarta-feira: ambos querem demonstrar força
Júnia Gama e Leticia Fernandes, O Globo
BRASÍLIA Apesar da proximidade da data decisiva sobre a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, nesses últimos dias de recesso ficou claro que nem governo nem oposição têm total segurança se a votação será concluída. De um lado, a oposição não quer dar quórum para o que se anuncia como uma derrota certa. Do outro, o governo teme que o número de parlamentares o apoiando deixe claro sua fragilidade para prosseguir com a agenda de reformas. Por isso, ambos os lados ainda analisam as melhores estratégias para o dia e só devem bater o martelo sobre as ações a serem tomadas na própria quarta-feira; o início da sessão está marcado para as 9h.
A oposição pretende definir apenas no dia da votação se comparecerá ou não. O governo também observa se será capaz de se livrar da denúncia contra Temer ou se será preciso mais tempo para alinhar a base e dar uma demonstração de força que lhe permita sobreviver sem grandes sequelas. Não está descartada a possibilidade de governistas somente darem quórum após verificarem que haverá uma margem segura para a votação. Apesar da indefinição, integrantes do governo garantem que, resolvida a questão do quórum, Temer vencerá a batalha com facilidade, por mais de 250 votos.
— Cabe agora à oposição querer votar. A bancada do governo está pronta desde antes do recesso — afirmou o ministro da Educação, Mendonça Filho, um dos que devem voltar à Câmara para votar a denúncia.
Mesmo confiante de que a oposição não reunirá os 342 votos para levar adiante a denúncia, o governo teme que o quórum fique abaixo do previsto para concluir a votação ou que a margem de votos favoráveis ao governo seja baixa. Ambas as hipóteses poderiam ser vistas como derrotas para o Planalto, ainda que Temer consiga enterrar esta primeira denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Por enquanto, o Palácio do Planalto continua com a mobilização em torno dos deputados indecisos, com liberação de emendas e promessas de cargos, além da exoneração dos 12 ministros com mandatos de deputados para que reforcem o quórum. O governo articula também uma manobra para deixar os deputados mais à vontade no dia da votação. Integrantes do PMDB discutem a apresentação de uma questão de ordem para que os deputados sejam dispensados de votar no microfone, registrando suas escolhas apenas no painel eletrônico. Assim, sem “mostrar a cara”, o governo pretende angariar votos de parlamentares mais suscetíveis à opinião pública, especialmente num cenário em que Temer aparece com apenas 5% de aprovação popular.
— A sessão será televisionada e isto pode constranger muitos que desejam ser fiéis ao governo, mas têm medo da reação de suas bases — explica um ministro do PMDB.
Maia avalia que sessão terá presença de 400 deputados
Presidente da Câmara diz votação não será ameaçada por falta de quórum
Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a página será virada na quarta-feira. A expectativa de Maia é que o quórum será de aproximadamente 400 deputados. Aliados do governo destacam que, após ensaiar uma postura mais independente em relação ao governo, logo que o PSDB o apontou como alternativa viável para lidar com a crise na sucessão de Temer, Maia voltou a atuar mais afinado com o Palácio do Planalto.
Segundo Rodrigo Maia, não houve, até o momento, qualquer pedido por parte do Planalto para que a votação seja adiada. Ele acredita que quanto antes o assunto for encerrado melhor para o governo, que terá a sangria estancada e poderá retomar a pauta de reformas.
— Vai ter quórum dia 2. Aqueles cerca de 80 deputados que devem votar contra o governo, mas que não são da oposição, não vão obstruir. Vão ser apenas uns cem deputados obstruindo. O governo não quer deixar para setembro — afirmou o presidente da Câmara.
AUSÊNCIA INJUSTIFICÁVEL
O líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), demonstra otimismo. Ele acredita que seu partido estará alinhado na votação, depois de fechar questão contra a denúncia.
— Acho que encerramos essa votação dia 2, porque é muito difícil o deputado ter qualquer tipo de justificativa plausível para não estar presente nessa sessão, tamanha a importância que ela tem. Mesmo quem queira votar a favor da denúncia, é difícil ter uma justificativa razoável. Eles vão comparecer, marcar posição política — afirma. A ausência deles prejudica o país, a economia, a estabilidade política, não o presidente Temer.
BASE PARA GOVERNAR
O deputado conta que está marcada para amanhã uma reunião com os líderes da base, com a qual o governo pretende fazer um ato simbólico de demonstração de força. Para o Planalto, não basta vencer no dia 2, é preciso ter uma margem ampla de votos que mostre capacidade de governar após a derrota da denúncia.
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