Não se pode apostar que a boa conjuntura mundial continue e o Brasil não venha a pagar algum preço por não conseguir fazer o ajuste fiscal de que necessita
A economia e a política têm percorrido rotas opostas. Enquanto se multiplicam indicadores positivos — e agora não apenas no comércio exterior —, a crise política, agravada pela denúncia de corrupção contra o presidente Michel Temer, persiste. Temer venceu a batalha da denúncia contra ele feita pela Procuradoria-Geral da República, mas, além da probabilidade de ser encaminhada pelo menos mais uma ao Supremo, e daí para a Câmara, não se sabe o que poderá sair sobre o presidente de alguma delação premiada. Principalmente de Eduardo Cunha e/ou do operador financeiro do ex-deputado e da bancada do PMDB, Lúcio Funaro.
A melhoria no campo econômico anima os espíritos mais otimistas. A retomada do crescimento não confirma os índices que eram estimados no fim de 2016, mas as melhorias no emprego e a vertiginosa queda da inflação estimulam os ânimos. O fato de o mercado de trabalho dar sinais de ter chegado ao fundo do poço e começado a fazer a viagem de volta já é por si notícia alvissareira, pela tragédia social e humana que envolve a falta de trabalho.
Em julho, pelo quarto mês consecutivo, foram criados empregos formais. Neste mês, houve um saldo líquido de 35,9 mil vagas, o maior em três anos — o período em que houve estagnação, em 2014, e dois anos seguidos de profunda recessão, de aproximadamente 8%, que fez surgir uma população de quase 14 milhões de desempregados.
De acordo com o IBGE, no trimestre de março a maio, o desemprego médio foi de 13,3%, com uma queda em relação ao de 13,6% referente a de fevereiro a abril. Configura-se, portanto, uma tendência de avanços no mercado de trabalho.
No início do ano, a excelente safra de grãos movimentou a economia, criando empregos. Mais recentemente, a própria indústria, com um crescimento de 0,8% em maio, voltou a abrir vagas.
Nesta fase inicial de reação do mercado de trabalho, criam-se muitos empregos informais e de salários mais baixos. O importante, porém, é que as engrenagens do sistema produtivo voltam a se mover para frente.
Ter este cenário com uma inflação baixa, aquém do piso da meta (3%), estimula o otimismo, porque empurra o Banco Central para manter o ritmo de corte da taxa de juros à razão de um ponto percentual por vez. Mais uma ajuda ao crescimento.
Porém, é uma ilusão achar que esta tendência benigna se firmará sem a reforma da Previdência e outras medidas que contenham a propensão ao crescimento autônomo dos gastos.
Deve-se considerar que a economia mundial passa por um momento de grande liquidez e de juros muito baixos. Não se deve apostar na eternização deste quadro. E quando ele mudar, o Brasil pagará um preço com a interrupção da recuperação e da consequente geração de empregos.
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