Após sete meses, o mundo político americano parece ter aprendido a melhor maneira de lidar com o presidente Donald Trump - afastando-se dele ou limitando legalmente seus movimentos. Isso inclui os republicanos, que começam a demonstrar insatisfação com o mal que uma Casa Branca desgovernada fará em suas candidaturas e ao país. A insatisfação dos eleitores com os shows diários de Trump cresceu. Com 33% de apoio, ele tem a pior marca de um presidente americano em tão curto período. E mesmo entre os eleitores republicanos, que têm simpatia pelas extravagâncias do presidente, seu prestígio é cadente, embora alto.
Trump não mudou quando assumiu a Presidência e essa é uma das raízes de todos os problemas. Ele faz o que lhe dá na telha, desnorteia seus assessores, expõe o que pensa sobre eles em voz alta e em termos nada lisonjeiros, detesta discussões, tem pouca capacidade ou paciência para os assuntos de governo ou para persuadir quem dele discorda, ao mesmo tempo em que adora dar ordens, ser obedecido e bajulado. Não é à toa que não conseguiu ainda organizar um núcleo coerente no coração do governo, nem preencher 350 postos importantes na burocracia que dependem de aprovação do Senado.
Trump assiste ao recesso do Congresso sem ter nenhum ato legislativo importante aprovado - mesmo com a maioria republicana na Câmara e no Senado. O fiasco de sua promessa mais estridente de campanha, o fim do Obamacare, foi avassalador. Não apenas alguns republicanos se recusaram a derrubar o plano sem ter algo coerente e viável a pôr em seu lugar, como também rejeitaram substitutos feitos às pressas. Um número pequeno, porém decisivo, de senadores republicanos ignoraram um a um os apelos e as invectivas do presidente a respeito.
Com um presidente que tuita a toda hora sobre questões que não discutiu com ninguém, um dos piores empregos em Washington hoje é o de porta-voz do governo. Trump nomeou uma espécie de alter-ego, Anthony Scaramucci, financista de Wall Street com passagem pelo Goldman Sachs. Grosseiro e falastrão, Scaramucci conseguiu desalojar o chefe de gabinete do presidente, Reince Priebus, e atacou o estrategista chefe da Casa Branca, Stephen Bannon, em termos chulos. Não durou mais que uma semana no cargo e foi substituído pelo general John Kelly - generais e ex-funcionários do Goldman Sachs parecem ter a primazia no staff presidencial.
Sem oposição relevante no Congresso, Trump só conseguiu agir rapidamente naquilo que depende de ordens executivas, como a revogação das leis de proteção ao ambiente e aperto no cerco à imigração, ou na política externa, na qual o Executivo tem margem bem maior de liberdade diante do Legislativo. Mesmo assim, o Congresso, com apoio majoritário dos republicanos, conseguiu reduzir parte desse poder, caso das sanções aprovadas contra a Rússia. Com votos contrários que se contam nos dedos das mãos, Câmara e Senado impediram o presidente de mudar as sanções sem autorização do Congresso ou de exercer seu poder de veto.
O caso da Rússia é emblemático de dificuldades para Trump e da desconfiança que ele criou entre seus partidários. Como parece viver em um mundo paralelo, o presidente não disfarçou sua pública contrariedade ao assinar limites a seu poder aprovados no Congresso. Trump parece não levar em conta a enrascada em que pode se meter. As investigações sobre a influência russa na campanha eleitoral, a favor de Trump, estão avançando em direções comprometedoras para o presidente. O conselheiro especial Robert Mueller criou um juri para assistir aos depoimentos e parece caminhar para averiguar os negócios das Organizações Trump com oligarcas russos e gente diretamente ligada ao Kremlin.
Trump, após demitir o diretor do FBI que investigava o assunto, tem advertido que pode fazer a mesma coisa com Mueller e disse que ele atravessaria a "linha vermelha" se se metesse em seus negócios. Republicanos e democratas já buscam um caminho legal para manter Mueller, caso isso ocorra.
Ao ter as mãos amarradas pelos parlamentares nas sanções à Rússia, Trump foi revelador ao retorquir: "Eu construi uma grande empresa que vale bilhões de dólares e essa é grande parte da razão pela qual fui eleito", disse. "Como presidente, eu posso fazer melhores acordos com países estrangeiros do que o Congresso". Desse jeito, Trump pode voltar a administrar seu império antes do que ele mesmo previa.
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