Camila Mattoso, Bela Megale | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Um depoimento do advogado e delator da JBS, Francisco de Assis e Silva, contradiz as declarações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Na manifestação, por escrito, que fez para pedir a abertura de uma investigação sobre omissões de informações dos executivos do frigorífico, Rodrigo Janot afirma que até o dia 17 de março, data da gravação do áudio entre Joesley Batista e Ricardo Saud, "nenhum dos colaboradores, direta ou indiretamente, haviam buscado tratativas com a PGR (Procuradoria-Geral da República), para iniciar negociação de acordo penal, fato esse que só veio a acontecer por volta de 27/03/2017".
No entanto, em um processo interno da Corregedoria-Geral do MPF (Ministério Público Federal), Assis e Silva afirmou que a primeira conversa sobre o tema ocorreu em 20 de fevereiro, ou seja, data anterior à mencionada por Janot.
A divergência importa porque nesta data o ex-procurador Marcello Miller, suspeito de ter orientado a delação da JBS, ainda estava na PGR.
"Que no dia 19 de fevereiro, um domingo, telefonou para o procurador Anselmo avisando-lhe que Joesley havia decidido se tornar colaborador premiado, reunindo-se com ele na segunda seguinte, dia 20. Que Anselmo encaminhou o depoente à PGR, onde falou com o procurador Sérgio Bruno", consta no termo do depoimento do advogado.
Sérgio Bruno é promotor de Justiça do Distrito Federal e faz parte do grupo de trabalho de Janot.
Ele conduziu diversas delações premiadas, como a dos executivos da Odebrecht.
Anselmo, a quem Assis e Silva faz referência, é um procurador federal que está à frente de diversas investigações, como a Greenfield, que tinha a JBS como um dos seus alvos.
Procurada, a PGR disse por meio de nota oficial que o encontro do dia 20 de fevereiro não aconteceu e reforçou que "as tratativas efetivas para celebração de acordo de colaboração premiada com os advogados dos executivos do Grupo J&F se deram somente no fim de março".
A Folha também tentou contato com o advogado por várias vezes, mas sem obter sucesso.
Diferentemente também do que disse Janot, que afirmou que o novo arquivo de áudio enviado pela JBS teria ido para a Procuradoria de maneira acidental, a Folha apurou que representantes da empresa só decidiram entregar o áudio da conversa entre dois delatores citando Miller depois de saberem que a Polícia Federal tinha uma gravação similar.
Miller, ex-aliado próximo de Janot, é o principal personagem da polêmica que se criou em torno da delação.
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