- O Estado de S.Paulo
Há um atraso generalizado em relação a nomes e programa de governo para a eleição
A um ano e quinze dias do primeiro turno da eleição do ano que vem, a impressão que fica é a de que há um atraso generalizado sobre a definição de partidos, nomes e plataformas de campanha para a sucessão do presidente Michel Temer. E, principalmente, um projeto de Nação.
Mesmo o ex-presidente Lula, o ex-ministro Ciro Gomes e o deputado Jair Bolsonaro, que já se lançaram candidatos a presidente, devem ao eleitor um detalhezinho que seja de seus programas de governo. Lula não convencerá o eleitor dizendo que fará um repeteco de seus dois mandatos, caso se livre dos problemas que tem com a Justiça, se candidate e vença a eleição. A política econômica dele foi tocada por Antonio Palocci, hoje preso e na boca para fazer um acordo de delação premiada cujo principal alvo é justamente Lula. Bolsonaro não disse ainda nada do que pretende fazer. O mesmo acontece com Ciro Gomes.
Cientistas políticos afirmam que o voto deverá ser mais conservador na próxima eleição. E que o eleitor será mais exigente. Só dizer que vai prender e arrebentar, para lembrar uma expressão do ex-presidente João Figueiredo, o último general-presidente do regime militar, não resolve.
O eleitor quer ouvir do candidato o que ele fará com o dinheiro do imposto recolhido dos cidadãos, diz Antonio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que desde a Constituinte de 1987/88 acompanha o Congresso. Por exemplo: tem proposta viável para melhorar o transporte coletivo, a educação, a saúde, a segurança pública, o emprego, a renda, o serviço público, impedir que a corrupção nasça e cresça? De cada candidato será cobrado mais do que eles prometeram nas eleições anteriores, diz Queiroz.
Em relação aos nomes já anunciados como pré-candidatos, e sobre os quais existe a expectativa de que venham a disputar a eleição, Lula parece ter transformado sua candidatura numa tentativa de se proteger da Justiça. Caso venha a ser condenado em segundo instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, tornando-se ficha suja. Dirá que se tornou um perseguido político.
Essa estratégia pode ser boa para a figura do ex-presidente. Não é boa para seu partido, hoje obrigado a dizer que tem apenas o plano A, e que esse plano é Lula. Porque, em caso de condenação de Lula, quando o PT perceber que é preciso sim ter o plano B, seja para lançar um candidato próprio, seja para apoiar um de outro partido, talvez Ciro Gomes, poderá ser muito tarde.
Bolsonaro deverá deixar o PSC para se filiar ao PEN, que trocará o nome para Patriotas. Dependerá da força do nome, porque o partido não tem nenhuma condição de lhe garantir nada. Mesmo assim, corre o risco de sumir caso o general Antonio Hamilton Martins Mourão se candidate depois de deixar a ativa, como se especula. O general esteve e ainda está no centro de uma polêmica sobre intervenção das Forças Armadas nas instituições democráticas. Não foi punido. Mas deu um recado justamente para os eleitores de Bolsonaro.
Quanto aos candidatos do centro político, Alckmin tem razão. Não dá para esperar até o fim do primeiro semestre do ano que vem para a definição do nome do PSDB. Está mais do que na hora de se fazer a escolha. E também de divulgar alguns detalhes da plataforma de campanha e do programa de governo.
Já o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) encontra-se numa situação bastante confortável. Ele não precisa dizer que é pré-candidato. Outros dizem por ele. Quanto ao programa de governo, se a economia crescer como é a expectativa, e o emprego voltar, Meirelles poderá dizer ao eleitor que o responsável por tudo é ele. O maior problema para Meirelles talvez seja o fato de que estará com 73 anos na eleição.
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