O Brasil continua investindo muito menos que o necessário para seguir o ritmo de outros países emergentes, mas a produção se reativa e a recessão ficou para trás, como indica mais um balanço provisório da economia, o Monitor do PIB, elaborado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Depois de dois anos de retração, a mera retomada é uma novidade satisfatória, especialmente porque já se notam sinais de melhora do emprego na indústria. Mas falta cuidar com mais empenho do potencial produtivo, para eliminar o risco de uma longa fase de mediocridade. Por enquanto, os dados de crescimento, vistos de vários ângulos, são inequivocamente positivos. Em julho, o Produto Interno Bruto (PIB) foi 0,1% maior que em junho e superou por 1,3% o de um ano antes.
O relatório da FGV confirma a tendência de recuperação apontada na semana anterior pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Este indicador aumentou 0,41% de junho para julho e ficou, na série com ajuste sazonal, 1,46% acima do do mês correspondente de 2016. O ponto relevante é a coincidência quanto ao rumo da economia. O Monitor mostra avanços em quase todas as comparações com os dados do ano anterior.
Quando se considera o trimestre móvel terminado em julho, o confronto entre os dois anos aponta melhoras na agropecuária (+11,7%), na extração mineral (+4,5%), na indústria de transformação (+1,6%), no comércio (+3%), nos transportes (+2,4%) e em serviços (+0,7%, após 30 meses consecutivos de quedas). Mas a construção recuou 6,8%, apresentando um desempenho claramente associado à escassez de investimentos em obras.
O investimento produtivo, medido como formação bruta de capital fixo, foi 4,5% inferior ao estimado para o trimestre móvel de maio a julho do ano passado. Os dois grandes componentes desse indicador evoluíram em sentidos opostos. O capital aplicado em máquinas e equipamentos foi 3% maior que o de um ano antes, enquanto o valor investido na construção diminuiu 9,7%. Com isso, a taxa de investimento, em queda quase ininterrupta desde 2014, ficou em julho deste ano em 17,4% do PIB, muito abaixo dos níveis observados em outros países emergentes (iguais ou superiores a 24%).
O recuo do investimento em obras está associado principalmente à paralisação dos programas e projetos da área de infraestrutura. A mudança do quadro dependerá, em primeiro lugar, do avanço das concessões e privatizações anunciadas pelo governo. Esse avanço poderá, a curto prazo, dinamizar vários segmentos da indústria, além de ampliar as oportunidades de emprego.
Os efeitos mais importantes serão os de médio e de longo prazos: aumento da produtividade geral da economia, do poder de competição internacional das empresas brasileiras, do potencial de crescimento do PIB e da geração de empregos. Mas será preciso complementar o investimento em máquinas, equipamentos e obras com novos programas educacionais. A política educacional brasileira tem sido desastrosa, como comprova a baixa qualidade da mão de obra disponível no País.
A política em vigor desde o começo do período petista foi orientada principalmente para fins eleitorais, com pouquíssima atenção à qualidade do ensino e à formação de competências. Os testes internacionais e as comparações com as políticas seguidas em outras economias emergentes e recentemente industrializadas mostram a baixa qualidade da ação educacional no Brasil, especialmente no século 21.
A prioridade dada à multiplicação de vagas em faculdades – muitas delas de padrão lamentável – e o desleixo com os níveis fundamental e médio impuseram e continuarão a impor enormes perdas à economia brasileira e ao efetivo desenvolvimento social.
Os sinais positivos apontados pelo Monitor da FGV, pelo IBC-Br e por outros conjuntos de estimativas confirmam a capacidade de recuperação da economia brasileira, depois de uma crise. Mas crescimento vigoroso por longo período é assunto muito mais complicado.
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