Por Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO - O PT busca apoio do PCdoB, PSB, PDT e até do PSol para evitar o isolamento na eleição presidencial de 2018. Em meio à indefinição sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, partidos de centro-esquerda acenam com a possibilidade de lançar nomes próprios na disputa.
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou ontem que se reunirá com o comando do PCdoB e PSB até o próximo mês e disse que tem conversado com o PDT, apesar de o partido ter lançado a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes. O Psol também foi procurado, segundo Gleisi. "Vamos procurar todos de centro-esquerda", afirmou, depois de participar de um evento para discutir a plataforma de governo do PT para 2018, promovido pela Fundação Perseu Abramo.
O PCdoB passou a indicar que poderá não apoiar o PT em 2018 se Lula não for candidato. Apesar de a sigla ser aliada histórica do PT, dirigentes do PCdoB como o governador do Maranhão, Flávio Dino, resistem em apoiar um "plano B" petista e dizem que Ciro Gomes poderá ser uma opção viável.
Ao falar sobre o PDT, Gleisi minimizou críticas de Ciro a Lula e disse que é possível um acordo. "A gente já conhece a personalidade do Ciro. Ele fala no 'quente', é muito reativo. Sabemos diferenciar. Temos respeito por ele, que foi nosso ministro, e pelo PDT".
A candidatura de Lula foi colocada em xeque depois do depoimento do ex-ministro Antonio Palocci ao juiz federal Sergio Moro. O ex-ministro acusou o ex-presidente de cometer atos ilícitos e de ter um suposto "pacto de sangue" com a Odebrecht para receber propinas. Além disso, Lula é réu em sete ações penais e foi condenado em primeira instância.
O ex-presidente tenta mostrar que sua candidatura é viável e deve iniciar a segunda caravana em 23 de outubro. Depois de percorrer o Nordeste, viajará oito dias em Minas Gerais para defender-se de acusações e tentar manter-se na liderança de pesquisas de intenção de voto. Lula irá ao Vale do Jequitinhonha, o Vale do Mucuri, o Vale do Rio Doce, o Vale do Aço, Belo Horizonte e região metropolitana.
Em outra frente, o PT tenta se descolar de Palocci e deve decidir hoje sobre a suspensão do ex-ministro, em reunião do Diretório Nacional. O ex-ministro já é alvo de um pedido de expulsão, em processo aberto nesta semana no diretório de Ribeirão Preto (SP).
A presidente do PT defendeu a suspensão de Palocci e disse que esse é um assunto "muito tranquilo" no partido. Segundo Gleisi, a suspensão "já caminha" para a expulsão do ex-ministro. Se o comando nacional do PT aprovar, Palocci será suspenso por até 60 dias e terá o direito de defesa. Enquanto isso, o diretório de Ribeirão Preto analisará a expulsão. O ex-ministro é acusado de quebrar a ética partidária com o depoimento prestado ao juiz Moro.
Ontem, ao falar com a militância do PT, Lula não citou Palocci, mas criticou as investigações contra ele e voltou a afirmar que não roubou. O ex-presidente classificou como uma "excrescência" a acusação do Ministério Público Federal de que teria vendido uma medida provisória com incentivos fiscais ao setor automobilístico. A acusação foi aceita pela Justiça do Distrito Federal, tornando Lula réu pela sétima vez. "É excrescência, da excrescência, da excrescência", disse. O petista criticou também os delegados que o investigam na Operação Zelotes como "analfabetos políticos".
O petista disse ainda que as acusações o estimulam a lutar. "Digo todo dia para minha consciência: eles mexeram com quem não deveria mexer. Não é porque estou acima de qualquer coisa não. É porque eu não fiz o que eles dizem que eu fiz", afirmou. "Se eles estão acostumados a mexer com político que fez corrupção, que roubou, que 'enricou' e que está com o rabo no meio das pernas eles estão mexendo com político que não roubou, que não tem medo deles e que a única coisa que tem é sua honra para defender neste momento".
Na reunião com o PT, Lula relatou estar preocupado com a defesa de intervenção militar no país feita pelo general do Exército Antonio Hamilton Martins Mourão. De acordo com relatos de participantes do encontro, o petista disse que as declarações do general fogem ao processo democrático.
Na sexta-feira, o general Mourão defendeu a intervenção militar se o Judiciário "não solucionar o problema político" no país.
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