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A política anda tão desqualificada que uma das armas mais utilizadas por aqueles a quem a aplicação da lei desconforta é espalhar boatos de que investigadores e juízes querem mesmo é ser políticos. A ideia é colocá-los sob suspeição, insinuar que fazem o que fazem no intuito de obter vantagem pessoal. Qual seja, tentar eleger-se deputado, senador, governador ou presidente.
Essa versão carrega um ato falho e um paradoxo. Seus autores, políticos na maioria, admitem que a atividade a que se dedicam oferece meios e modos para a obtenção de benefícios distantes do interesse público. Ao mesmo tempo cometem uma incongruência.
A suspeita sobre os reais objetivos desse ou daquele promotor ou juiz em geral é acompanhada da acusação de que a atuação desses agentes é extremamente prejudicial ao funcionamento do país e danosa para a democracia, pois visaria à desmoralização da política. Ora, se de fato têm a intenção de entrar para a política, por que seriam ativistas de seu aniquilamento? Outra: se pretendem mesmo trocar a estabilidade de sua profissão pela vida incerta da busca constante de votos, qual o interesse deles em tornar ainda mais difícil a vida dos eleitores de quem passariam a depender?
Não havendo lógica no raciocínio nem ingenuidade nos argumentos, resta como explicação a má-fé. Tão nefasta que se vale da boa-fé de um contingente de cidadãos, estes, sim, ingênuos, que consideram iguais atributos, formação, vocação e circunstâncias necessárias ao exercício de atividades absolutamente diferentes. Julgar, investigar e eventualmente acusar nada tem a ver com governar, legislar, construir consensos e/ou administrar dissensos mediante negociações, composições, concessões (no bom sentido, considerando um cenário próximo do ideal).
Mas o deserto anda tão árido no tocante à correção de condutas que, quando o público (ou parte dele) vê alguém atuando em consonância com seu interesse, a tendência é imaginar que essa mesma pessoa possa encarnar a salvação. Daí os índices elevados de “intenção de voto” no juiz Sergio Moro quando o nome dele é incluído nas pesquisas de opinião.
O mesmo aconteceu, e ainda acontece, com o ministro do Supremo Tribunal aposentado Joaquim Barbosa. O primeiro atende às expectativas na condução do que lhe chega em relação à Lava-Jato e o segundo fez o mesmo na época do julgamento do mensalão.
Naquela ocasião, passados já cinco anos, dizia-se sobre Joaquim o que se diz hoje sobre o procurador-geral da República em fim de mandato, Rodrigo Janot. Candidatos, sem dúvida. Joaquim não foi, a despeito de “informações de cocheira” difundidas por advogados de defesa, Moro não será nem Janot. Primeiro, porque não é essa a natureza de nenhum dos três. Segundo, porque em termos populares a vida já lhes sorri de onde estão.
Por último, mas não menos importante, porque os partidos têm oligarcas que não pretendem substituir tão cedo, e certas normas que não estão dispostos a submeter ao rigor de ninguém. Muito menos a rigorosos juízes e promotores que tanto apoio recebem da população. (Veja – edição 06/09/2017)
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