Talvez mais até do que na economia, é provavelmente no campo da política que se mostram incertas e frágeis as previsões dos especialistas. Além da natureza caprichosa e fortuita dos acontecimentos, também o desejo pessoal e o partidarismo tendem, nesse caso, a exercer sua influência.
Passado um ano da consumação do impeachment de Dilma Rousseff —a petista foi afastada em maio, mas o desfecho formal e quase inevitável do processo só se deu ao final de agosto de 2016—, avaliações e prognósticos amplamente difundidos ao longo daquela crise se mostram, se não errôneos, merecedores de relativização.
Defensores da então presidente alardeavam, por exemplo, o risco de instabilidade e de revolta face ao que tentaram classificar, como ainda o fazem, de "golpe" contra as instituições democráticas e um "projeto de governo popular".
O diagnóstico não resistia aos fatos, e a turbulência que se ameaçava jamais se confirmou. Embora configurasse alteração traumática —e, para esta Folha, indesejável— do cronograma político, o impeachment se fez conforme longo e cuidadoso trâmite legal.
Os embustes no manejo das contas públicas durante o governo Dilma, desencadeadores jurídicos do processo, eram sem dúvida difíceis de serem compreendidos em seus detalhes pelo público leigo.
Não deixaram de simbolizar, entretanto, aquilo que todo brasileiro sentia concretamente no cotidiano: o avanço da inflação e a paralisia econômica, agravados pela ausência de qualquer tentativa viável de fazer avançar, no Congresso, as reformas capazes de reverter o desastre em curso.
O que se tinha, muito longe de um projeto popular, era o açambarcamento do Estado por um conluio de interesses fisiológico-partidários, sustentado pelo assalto às verbas públicas e pelo apoio de empreiteiras e outros setores empresariais dependentes do favorecimento e do protecionismo estatal.
Não se mostraram pequenas, por sua vez, as ilusões e a exaltação retórica do lado oposto. Havia quem julgasse, por exemplo, que se feria de morte a corrupção ao afastar os petistas do poder. Era ignorar voluntariamente a torpeza de muitos dos grupos arregimentados em favor do impeachment.
Chegou-se a prever, ademais, uma rápida retomada do crescimento, afastada do horizonte das expectativas a sombra da incompetência dilmista. A recuperação está em curso, porém de modo lento e difícil, permanecendo rombos gigantescos no Orçamento.
As instituições sobrevivem, a economia convalesce, os malfeitos persistem, mas seu combate também; às paixões substituíram-se o cansaço e o desalento. Podia ter sido, entretanto, muito pior. O teste era dificílimo, do ponto de vista político. O Brasil passou.
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