- O Globo
Os bons indicadores da economia, sinalizando o fim da recessão e uma retomada lenta do crescimento, chegaram em boa hora para o presidente Michel Temer, às vésperas de enfrentar uma segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Dificilmente a semana que começa vai dar espaço para a aprovação da reforma política, pois todos estão aguardando o que vem na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro contra Temer e seu grupo do PMDB, a quem Funaro servia.
O país entra novamente num momento em que os paradoxos predominam. É hora de tentar derrubar o presidente da República, quando as coisas parecem estar voltando aos eixos?
A solução da crise fiscal depende das medidas de ajuste que o Congresso ainda não aprovou, e se os deputados ficarem dominados pela agenda do Rodrigo Janot não terão condições de retomar o tema que realmente importa.
O desemprego continua muito elevado, embora em queda, e o ritmo de crescimento do PIB continua lento, negativo em 12 meses, mas tendendo a terminar o ano com um crescimento mínimo de 1%, que já é grande coisa depois de dois anos negativos.
Por outro lado, vemos o desfile de impropriedades desse governo e sua relação com a base parlamentar, que depende de trocas de favores e fisiologismo escancarado. A delação do doleiro Funaro é uma espécie de continuação do áudio da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Temer.
Ele confirma que recebia dinheiro de Joesley para ficar calado, o que foi revelado pelo próprio empresário a Temer, ouvindo dele, na conversa no Jaburu, o incentivo: “Tem que manter isso, viu?”. Vendo os principais assessores do presidente envolvidos em negócios nada republicanos, nesses anos todos, com o doleiro Funaro, e o próprio Temer, vendo confirmado o crime de obstrução de Justiça na tentativa de calar o delator, como esquecer tudo isso na ilusão de que as reformas que faltam serão aprovadas pelo Congresso?
A cada revelação dessas, aumenta o preço, literalmente, do apoio da chamada base aliada, e o paradoxo mais uma vez atua: aumentar o gasto público para controlar os deputados, que prometem aprovar as reformas que controlarão os gastos públicos. Impedir o processo contra o presidente será imprescindível para garantir a governabilidade? À custa de quê?
De fazer o que estamos fazendo todos esses anos, fingir que não existe corrupção, aprovando na prática o “rouba, mas faz”? Deu no que deu, e pode dar mais errado ainda na eleição de 2018, que será disputada num clima de radicalização exacerbada pela falta de esperança do eleitorado.
As pesquisas mostram que todos os candidatos têm taxas de rejeição altíssimas, e os radicais encontram campo fértil nos primeiros momentos da campanha, que já está nas ruas com as caravanas de candidatos assumidos, como o prefeito tucano de São Paulo João Doria, o ex-presidente Lula e o deputado Jair Bolsonaro, com uma atividade agressiva na internet e programando até mesmo uma viagem aos Estados Unidos para se apresentar aos investidores estrangeiros.
O que o Congresso fizer diante da segunda denúncia contra o presidente Temer terá repercussão na percepção do eleitorado, assim como o Supremo Tribunal Federal, que provavelmente terá pela frente decisões difíceis, como o impedimento do ministro Gilmar Mendes e a decisão sobre o sigilo da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, que implica o sigilo da denúncia contra Temer.
Qualquer posição que se pareça com proteção de seus interesses internos colocará o Congresso e o Supremo no mesmo patamar de desconfiança perante a opinião pública.
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