- O Globo
Até os mármores do Supremo Tribunal Federal sabem que o beato Joesley Batista estava grampeando conversas muito antes de ir ao Jaburu para sua tertúlia com Michel Temer. Eles também sabem que os Batista só foram à Procuradoria-Geral porque temiam a chegada da Polícia Federal às suas casas. A repórter Monica Bergamo revelou que se juntaram novos áudios e documentos ao processo do acordo com o Ministério Público. O procedimento cheira a uma nova fuga para a frente. A esquisitice pode estar relacionada com pelo menos dois fatos: as confissões de novos colaboradores e a iminente substituição da Procuradoria-Geral com a qual ele acertou um acordo-girafa.
O melhor que poderia acontecer seria o ministro Luiz Edson Fachin estender as negociações com o beato, até que a procuradora-geral Raquel Dodge e sua equipe possam saber onde a instituição pisa.
Batista já mostrou que tinha o que contar. Não contou tudo o que sabe e deixou lacunas. Uma delas foi a natureza e a tramitação de seus pleitos no BNDES. Ministros de Temer e parlamentares dizendo e fazendo o que não devem chegam a ser um bem-vindo arroz de festa, mas a pressa de Batista deveria ser esfriada, para que o conjunto faça maior nexo. Se todo os seus pleitos financeiros eram lisos, fica difícil entender por que distribuía tanto dinheiro.
Se os irmãos Batista quiserem começar tudo de novo, melhor assim, mas que seja para liberar o pacote inteiro, mesmo que seja necessário esticar prazos.
Surfando a onda do grampo do Jaburu, Joesley Batista ficou com a impressão de que foi bem-sucedido na construção do improvável personagem do empresário angelical rapinado por políticos larápios. Enganou-se, assim como estava enganado quando pensava que se livraria das investigações dos procuradores de Rodrigo Janot.
UM SUGESTÃO PARA ALEGRAR AS CIDADES
Comovido com a falta de recursos de que se queixam todos os prefeitos brasileiros e entristecido com as propagandas autocongratulatórias que fazem nos sites que mantêm na rede, um curioso teve uma ideia capaz de alegrar as cidades.
Em milhares de ruas, há calçadas onde os moradores plantam orquídeas nos troncos das árvores. Bastaria abrir um espaço nos sites das prefeituras para que essas belezas fossem exibidas.
Quem planta uma orquídea na rua não tem outro objetivo senão o de alegrar um instante da vida de quem passa. Se o prefeito quiser, pode visitar cidadãos que tomam essa iniciativa.
Na mesma linha, daqui a uns meses começam as decorações natalinas de casas e edifícios. Quem quiser pode premiar os melhores enfeites de cada bairro ou mesmo da cidade.
A sugestão tem duas vantagens: não faz mal a ninguém e não custa um centavo. Isso admitindo-se que uma ideia que não custa um centavo possa ser considerada boa.
Cada orquídea que floresce numa árvore de calçada pode levar as pessoas ao tédio poético de Carlos Drummond de Andrade: “Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu."
BAMBU
O procurador-geral Rodrigo Janot tem as próximas duas semanas para buscar no seu bambuzal uma flecha que ajude a investigar o comportamento de Marcelo Miller, seu braço-direito na PGR.
O doutor deixou o serviço público em abril, transferindo-se para um escritório de advocacia que cuidava de interesses da JBS dos irmãos Batista.
Se Janot continuar em copas, não poderá reclamar se Raquel Dodge, sua substituta, instaurar algum tipo de procedimento para esclarecer as causas e os efeitos da migração do colega.
A TROPA NO HAITI
O Brasil manteve uma presença militar no Haiti durante 13 anos. Passaram por lá 37 mil soldados e oficiais. Além das dificuldades crônicas da terra, encararam um terremoto, um furacão, um surto de cólera e três eleições presidenciais. Isso e mais o suicídio de um general brasileiro que comandava a tropa.
Terminada a missão, vê-se que deu certo, muito certo.
Um dos principais motivos do êxito da presença dos militares brasileiros no Haiti foi o desestímulo à presença de vivandeiras da política nacional em torno da iniciativa. Afinal, Port-au-Prince não está no roteiro de Paris.
Os militares fizeram seu serviço sem que colassem na missão propósitos salvacionistas e, sobretudo, sem o aparecimento de autoridades prometendo o que ninguém pode entregar e entregando estatísticas impróprias. Basta olhar para o que se faz sistematicamente no Rio.
BAMBUZAL
Os Tribunais de Contas do Rio estão na mira dos flecheiros do Ministério Público.
E tem gente achando que pode fabricar silêncios com mimos mensais.
CEGUEIRA PARCIAL
No ano passado, o Itamaraty teve seus motivos para mostrar ao governo de Israel que não gostaria de receber como embaixador no Brasil um político militante da ocupação dos territórios palestinos. O doutor Dani Dayan era um personagem rombudo e a pressão israelense em seu benefício foi de um amadorismo ridículo.
De lá para cá, viu-se que o Itamaraty concedeu agrément a embaixadores muito mais encalacrados que Dayan.
O Brasil recebeu o general Jagath Jayasuriya como embaixador do Sri Lanka. Ele deixou o seu país depois de firmar uma fama de matador de milhares de rebeldes. Exposto, escafedeu-se. (O general chegou ao Brasil em 2015 com dois poderosos guarda-costas. Resolveu passear no Rio e foi depenado.)
Num caso mais grotesco, nessa mesma época, o Itamaraty concedeu agrément ao embaixador de Cingapura, Choo Chiau Beng. Ele era um embaixador “não residente” e vivia em Cingapura. Até aí tudo bem, mas ele também não pertencia ao serviço público, pois era o CEO do estaleiro Keppel. Nessa condição,tomava conhecimento das propinas milionárias que sua empresa aspergia na Petrobras.
O Itamaraty dá a impressão de que não sabia quem era o general. No caso do empresário, a dupla militância era pública. Só implicaram com o israelense.
A VIRTUDE DO NADA
Nas próximas quatro semanas, o signatário dedicar-se-á exaustivamente a fazer nada.
Se alguns ministros de Temer fizessem o mesmo, o doutor não acabaria metido em vexames ambientais na Amazônia.
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