- O Globo
A conta de luz está 40% mais cara desde 2012, quando houve a intervenção do governo Dilma no setor elétrico. Não deve ceder a curto prazo. Esta semana mesmo houve o anúncio da alta da bandeira vermelha. Os reservatórios têm menos água do que na época do apagão do governo Fernando Henrique. Os administradores do setor elétrico não conseguem ver os riscos a tempo.
As hidrelétricas estão velhas, com baixa produtividade, os reservatórios, assoreados, e os rios, fustigados pelos maus tratos. O governo Dilma quis construir novas hidrelétricas, passando por cima de todas as restrições ambientais e hoje se sabe que em várias delas houve desvio de recursos públicos. O governo Temer ignora os problemas que se acumulam. No ano passado, disse que haveria sobra de energia e agora está aprovando um aumento atrás do outro. Era fácil ver antes que o nível de água continuava baixo nos reservatórios. O modelo do ONS para monitorar o setor tem sido questionado por especialistas.
Os governos Dilma e Temer passaram todo o ano de 2016 com bandeira verde apesar do baixo nível de água dos reservatórios. Foram iguais na demagogia. O pior momento do populismo tarifário foi com a MP 579, de setembro de 2012, quando a presidente Dilma reduziu a conta e, com isso, estimulou o consumo em época de escassez de água. O preço caiu e depois disparou.
O diretor da consultoria Excelência Energia, Erik Eduardo Rego, avalia que a tendência é de novos aumentos na conta nos próximos anos. Ele acha que só não haverá apagão porque a falta de energia derrubará o PIB.
— Trabalhamos com um cenário de alta de 2,5% no PIB do ano que vem. Se fosse mais do que isso, bateria na trave. Acho que isso não ocorre porque as tarifas terão que subir antes, e isso irá afetar principalmente a recuperação da indústria — explicou.
O que os especialistas dizem é que o sistema hidrelétrico brasileiro está velho, com baixa produtividade, e que o ONS não está dimensionando bem essa perda de eficiência. Com isso, autoriza um consumo maior do que as usinas conseguem gerar. Deveria determinar o uso de outras energias, a começar das mais limpas. Os reservatórios estão assoreados e há os "gatos de água”, pequenos produtores que usam a água dos rios sem autorização. Além disso, o órgão regulador considerou, nas suas projeções, que todos os projetos de energia do governo Dilma ficariam prontos nas datas planejadas. E não ficaram.
— Fizemos um estudo usando o mesmo modelo do ONS. Refizemos as contas com o que houve de despacho, consumo e chuvas, e comparamos com as projeções. O resultado é que todo ano os reservatórios estão ficando 10 pontos abaixo do projetado. Há uma margem de erro de 10 pontos por ano, e isso foi se acumulando — disse.
No Nordeste, o nível dos reservatórios caiu para 6,5% do total. Só não falta energia porque as eólicas estão trabalhando a todo vapor e já chegam a suprir 50% da geração. Eduardo Rego diz que hoje o Rio São Francisco caiu para 4º lugar como fonte de energia. A eólica é a primeira, depois, térmica a gás, e importação de outras regiões do país. Em todo o Brasil, há 15 GW de térmicas em uso, para uma capacidade máxima de 19 GW. Essa diferença de 4 GW, de usinas mais caras e poluentes, é justamente a reserva que o sistema elétrico tem hoje para evitar apagões em caso de pico de consumo. Mas não é uma boa solução porque são as usinas mais sujas.
O consultor Adriano Pires, do CBIE, diz que o governo Temer está repetindo o erro do governo Dima em não fazer campanhas de racionalização do uso de energia.
— Os governos têm medo de que a população confunda racionalização com racionamento. Isso é um erro. Se o PIB crescer 4% no ano que vem, há risco real de faltar energia. As contas vão ficar altas até que se recupere o nível dos reservatórios — disse.
Entra governo, sai governo, tem faltado planejamento no setor elétrico. No final do ano passado, o governo Temer cancelou um leilão de eólica e solar, dizendo que havia sobra de energia no sistema e este ano marcou para dezembro um leilão de energia a carvão, a mais poluente. Agora, a Aneel elevou em 43% a sobretaxa na conta de luz, e o medo do apagão voltou a rondar o país.
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