Marcos de Moura e Souza | Valor Econômico
BELO HORIZONTE - A ausência de concorrentes fortes para a disputa ao Senado poderá facilitar o caminho do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para buscar um novo mandato em 2018.
Flagrado negociando R$ 2 milhões com o empresário Joesley Batista, o tucano é alvo de ações que correm no Supremo Tribunal Federal por suspeitas de corrupção e sofreu um tremendo abalo em sua imagem nacionalmente.
Sua defesa procura dizer que as acusações são marcadas por equívocos e irregularidades e em Minas, aliados o veem como candidato natural ao segundo mandato no Senado.
Aécio tem evitado falar sobre planos eleitorais e há dúvidas sobre se ele terá condições jurídicas de ser candidato.
No ápice da crise, desatada pela divulgação da conversa gravada entre Aécio e Joesley, aliados mineiros disseram que a carreira de Aécio estava minada e que uma disputa à Câmara poderia ser o máximo que ele poderia aspirar em 2018.
Seu grupo político não definiu quem será candidato a governador de Minas, mas já tem a linha de campanha: comparar os governos do PSDB ao do atual governador Fernando Pimentel (PT). A estratégia valorizaria o papel de Aécio, que foi governador por dois mandatos (2004 a 2010).
Duas pesquisas recentes, da Quest e do Instituto Paraná, mostraram a intenção de votos dos mineiros para Senado em 2018. Em ambas, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) apareceu em primeiro lugar com 12% a 16%. Hoje, no entanto, Dilma não está no radar do PT do Estado, que deve oferecer a vaga no Senado a outro partido na montagem de alianças para a campanha de reeleição do governador Fernando Pimentel (PT).
Numa das sondagens sobre Senado, Aécio apareceu em segundo lugar, com 10%, e na outra, apareceu em quarto, com 13%, atrás de uma hipotética candidatura do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot - algo que hoje parece ser só especulação - e do empresário Josué Gomes da Silva. Filiado ao PMDB, Josué foi candidato em 2014 ao Senado por Minas apoiado por Dilma e Lula. Não foi eleito.
Duas das três vagas de Minas no Senado estarão em jogo em 2018: a de Aécio e de Zezé Perrella (PMDB). "Se Aécio quiser buscar a reeleição, se perceber que tem condições, é claro que a vaga será dele", disse ao Valor o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). "Vai depender das condições."
Um experiente aliado de Aécio em Minas diz que a dificuldade de Aécio poderá ser a presença de algum candidato ao Senado que seja um nome de fora da política, com perfil empresarial e ligado a partido de centro-direita. Ainda assim e apesar do episódio com o Joesley, o político vê o tucano como candidato natural do grupo.
Um petista interlocutor de Pimentel avalia que se Aécio quiser garantir algum mandato em 2018, o mais seguro seria disputar vaga na Câmara dos Deputados. Mas que uma eventual disputa ao Senado, Aécio tem a seu favor o fato de ser amplamente conhecido no Estado. O tucano se mantém como nome de peso do PSDB de Minas e partidos aliados entre eles DEM e PP.
Aécio, que foi governador por duas vezes (2004 a 2010) tem recebido em Brasília prefeitos e lideranças políticas de Minas e ouvido apoio para que dispute as eleições. No fim do mês, o partido vai reunir prefeitos e vereadores em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e a expectativa é que Aécio esteja presente.
Na quarta-feira, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram, por maioria, que o Poder Judiciário dispõe de competência para impor, por autoridade própria, medidas cautelares diversas à prisão a deputados e senadores - se essas medidas restringirem o exercício regular do mandato parlamentar, como o afastamento do cargo, caberá ao Congresso Nacional decidir, em um juízo político, se aplicará ou não a decisão judicial.
O julgamento era esperado como a solução para o impasse criado em torno de Aécio, a quem a Primeira Turma da Corte impôs, duas semanas atrás, o afastamento do mandato e o recolhimento domiciliar noturno. Com a decisão majoritária, o Senado deve manter a sessão que irá definir se o tucano permanece ou não no exercício das funções na terça-feira. (Colaboraram Luísa Martins e Cristiane Bonfanti, de Brasília)
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