- Folha de S. Paulo
A pedidos, tento responder à pergunta que eu próprio lancei na coluna de sábado (2), na qual questionei se investidores têm reais motivos para temer uma piora da economia, caso Lula seja eleito presidente. Eu receio que tenham, mas, como veremos, os motivos são mais sutis do que sugere a polarização nossa de cada dia.
O primeiro fato a destacar é que, em 2002, também sob a desconfiança do mercado, Lula sagrou-se presidente e fez, especialmente no primeiro mandato, uma administração responsável da economia. Sua gestão não apenas produziu superavits primários como ainda patrocinou uma importante reforma da Previdência.
Foi só no final de seu segundo mandato, com o propósito de fazer o sucessor e impulsionado pela exuberante bonança das commodities, que Lula começou a flertar com o populismo. Nada de irrecuperável, porém. Foi preciso Dilma para que a responsabilidade fiscal realmente desandasse.
Se a história acabasse aqui, nenhum investidor deveria temer a volta de Lula. Só que a história não acaba aqui. O Lula de 2018 não é o Lula de 2002, que fez a Carta aos Brasileiros.
De lá para cá, houve a Lava Jato, o impeachment e a assunção do governo Temer. Acuados, Lula e o PT não viram alternativa que não adotar um discurso de forte oposição ao programa liberal de Temer. Lula agora se opõe à reforma da Previdência, à trabalhista, à PEC do Teto de Gastos etc.
Uma possibilidade é que tudo isso não passasse de discurso de campanha e que, uma vez eleito, diante do imperativo de fazer as contas fecharem, Lula iria a gerir a economia de forma fiscalmente responsável.
O problema é que, depois do estelionato eleitoral de Dilma em 2014, ficou perigoso para qualquer candidato prometer uma coisa e, logo depois, começar a fazer o seu contrário. Há razões, portanto, para acreditar que Lula fala sério quando diz que, eleito, iria ampliar os gastos públicos e reverter medidas adotadas pela atual gestão.
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