Ribamar Oliveira e Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - A entrevista do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, à "Folha de S. Paulo", publicada ontem, foi um claro recado ao PSDB, de acordo com interlocutores do ministro ouvidos pelo Valor. Meirelles quis lembrar aos tucanos, segundo as mesmas fontes, que não adianta sinalizar desembarque do governo e, ao mesmo tempo, esperar apoio da base aliada na eleição presidencial do próximo ano.
"É uma definição de posição, no sentido de que é importante o engajamento de todos nesse processo de ajuste da economia do país. O PSDB toma decisão (de deixar o governo) que tem consequência eleitoral para a composição de alianças no ano que vem", disse um dos interlocutores.
O ministro considera um equívoco dos tucanos, segundo as fontes, achar que os partidos e os eleitores que não estiverem com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou com a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), os dois extremos do universo eleitoral, apoiarão o PSDB. "Eles acham que eles [os partidos e os eleitores] cairão, por gravidade, no colo do PSDB e, neste caso, do governador Geraldo Alckmin", observou uma fonte.
Na entrevista à "Folha", Meirelles contrariou essa avaliação atribuída aos tucanos, ao afirmar que o governo terá o seu candidato próprio à eleição presidencial. "Um candidato que se comprometa com as medidas de ajuste da economia, que defenda o que foi realizado e a estratégia seguida pelo governo", disse outra fonte.
O presidente Michel Temer busca consolidar uma aliança para 2018 que reúna os partidos de centro com o objetivo de lançar um candidato competitivo do governo. Meirelles, que é filiado ao PSD, não era o candidato do governo à sucessão presidencial até agora, mas, com o aval do presidente Michel Temer, acelerou o ritmo de postulante à indicação no fim de semana. O Valor apurou que o ministro da Fazenda consultou o Palácio do Planalto sobre a oportunidade da entrevista à "Folha".
Temer busca consolidar uma aliança para 2018 que reúna os partidos de Centro com o objetivo de lançar um candidato competitivo do governo. O presidente articula a construção de um candidato que reúna, em torno de si, os principais partidos que dão sustentação ao seu governo e defenda o seu legado: além do PMDB, o projeto é unir em uma coligação DEM, PP, PSD, PR, PTB e PRB. Até agora, Meirelles é o nome que se colocou com a disposição de se consolidar como este candidato. Um auxiliar de Temer ressaltou que, "hoje", Meirelles não é o candidato, mas "pode vir a sê-lo".
Para que Meirelles conquiste o posto, são necessários, de largada, três fatores: a consolidação da recuperação econômica, com a efetiva retomada da geração de empregos; que a melhora econômica se transforme em realidade no bolso dos eleitores; e que o ministro da Fazenda consiga convencer os eleitores de que é o responsável pelos bons resultados econômicos. Por enquanto, ele alcança 2% de intenções de voto segundo a última pesquisa Datafolha.
Dois episódios mostram que Meirelles decidiu acelerar o passo nos últimos dias: a presença no palanque de entrega de unidades residenciais do Minha Casa, Minha Vida, no sábado, em Limeira e Americana, no interior paulista; e a entrevista à "Folha", em que afirma que até março decide se concorrerá à sucessão presidencial. Esta hipótese preocupa os parlamentares da base aliada quanto à sucessão do próprio Meirelles na Fazenda, que não desejam que o secretário-executivo, Eduardo Guardia, ocupe a vaga: "o Guardia não atende nem o Temer", diz uma liderança do PMDB.
Já era cotidiana a presença de Meirelles em eventos do governo, mas relacionados à economia ou ao anúncio de liberação de recursos. A participação do evento do Ministério das Cidades no último sábado foi inédita e sintomática: a entrega de casas populares é um dos eventos mais concorridos entre políticos às vésperas de uma disputa eleitoral. Num momento de estremecimento com o PSDB, Temer levou seu ministro da Fazenda para dividir o palanque com o governador Geraldo Alckmin, pré-candidato dos tucanos à Presidência da República.
Outro empecilho é que o ministro ainda não tem o apoio da cúpula da própria sigla. O presidente licenciado do PSD, o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, tem compromisso eleitoral com seu padrinho político, senador José Serra (PSDB-SP). "O projeto do Kassab é o do Serra", disse ao Valor um ministro de Temer.
Neste cenário, o compromisso prioritário de Kassab é com o PSDB, que levaria o tempo de propaganda do PSD no plano nacional e na disputa paulista. Se, contudo, não houver incompatibilidade entre os cenários estadual e nacional, e Meirelles tornar-se um nome competitivo, o PSD pode, ao final, garantir apoio e tempo de televisão para a candidatura do ministro da Fazenda, ou do nome que vier a ser apoiado pelo governo Temer.
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