terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Declaração de Meirelles veio em momento inadequado, diz Maia

Lucas Vettorazzo / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou nesta segunda-feira (4) o tom da entrevistado ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, à Folha. Maia afirmou que há no país um debate que pretende juntar questões eleitorais com a aprovação da reforma da Previdência.

Na entrevista, Meirelles disse que o governo terá candidato no ano que vem e ele não será o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Sobre o apoio ou não dos tucanos na votação da Previdência, Meirelles afirmou que não teria a "pretensão de entender o PSDB".

Nesta segunda, o presidente da Câmara disse que Meirelles faz trabalho exemplar à frente do ministério, mas que não deveria entrar na discussão eleitoral e política.

"A entrevista foi num momento inadequado. Para alguém que não é ator político natural, [a forma com que ele se posicionou] atrapalha", disse. Segundo Maia, a "responsabilidade fiscal precisa estar separada da ideologia". "Sem reforma [da Previdência], qualquer candidato que prometer algo na eleição estará mentindo".

Mais cedo, em agenda em São Paulo, Maia disse que seria um "sonho" disputar a Presidência do país, conforme citado na entrevista por Meirelles e por interlocutores do presidente Michel Temer, que afirmam que o presidente tem simpatia por uma chapa Meirelles-Maia como opção governista no ano que vem.

Maia afirmou que, apesar de querer disputar um cargo no Executivo no futuro, agora não seria o momento ideal. Ele reconheceu ter baixa votação no Estado e disse que tentará uma nova vaga na Câmara em 2018.

REAÇÃO
A entrevista de Henrique Meirelles também não foi bem recebida por parte dos economistas.

A percepção é que a candidatura precoce, em pleno exercício do cargo de ministro, tende a ter efeito inverso do desejado neste momento: angariar um número maior de opositores à agenda de reformas.

"A prioridade do governo deveria ser garantir trânsito entre diferentes legendas para defender mudanças na Previdência, o que fica em xeque quando o ministro da Fazenda em pessoa se lança como candidato à eleição", avalia Marcos Lisboa, presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e colunista da Folha.

Segundo Lisboa, o país precisa agora da boa política, capaz de construir saídas para o país, não de candidaturas precipitadas.

"A gravidade do momento requer que as agendas pessoais sejam postas de lado. Há muito em risco e o prejuízo será de todos", diz Lisboa.

Colaborou Alexa Salomão, de São Paulo

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