- Valor Econômico
Fundo partidário pode ser usado para retaliar dissidência
A mesma eleição que ameaçava a reforma da Previdência pode funcionar como argumento decisivo para aprová-la, se tiver êxito uma ousada manobra em curso no Palácio do Planalto e no Congresso. A articulação avançou no fim de semana, a partir do entendimento de sete dos principais partidos aliados do presidente Michel Temer segundo o qual o sucesso da reforma da Previdência significa o sucesso da economia e o sucesso na economia a vitória nas eleições presidenciais de 2018.
Os dirigentes dos sete partidos - PMDB, PP, DEM, PR, PRB, PTB e PSD - firmaram um pacto para aprovar a reforma da Previdência, talvez ainda este ano, e pressionar o governador de São Paulo e presidenciável do PSDB Geraldo Alckmin a somar forças na votação da proposta. Se conseguirem ficar juntos, os comandantes dos sete partidos acreditam que podem ter voz e força na sucessão do presidente. Somado, o "grupo dos sete" representa cerca de metade do tempo de televisão que os candidatos a presidente terão na eleição.
Na avaliação dos dirigentes de partidos, a não aprovação da proposta previdenciária seria o verdadeiro risco eleitoral, pois significaria jogar fora o que até agora foi alcançado na economia, a dispersão desses partidos e a cristalização do atual panorama sucessório, com o ex-presidente Lula da Silva e o capitão Jair Bolsonaro na liderança, segundo informam as pesquisas eleitorais, o que não interessa a nenhum deles.
Para funcionar, a estratégia dos partidos aliados passa pelo fechamento de questão na votação da reforma da Previdência. Não foi por acaso que os presidentes desses partidos deixaram a reunião no domingo, no Palácio da Alvorada, falando em fechar questão. Também não foram obra do acaso as declarações, no mesmo sentido, do presidente nacional interino do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman. Uma parte do PSDB continua no governo e deve se movimentar de acordo com o comando do Planalto.
Trata-se de uma jogada de risco dos aliados, pois está baseada em uma previsão (os rios de mel do sucesso econômico) e na manifestação de fé dos dirigentes das sete legendas, o que ainda precisa ser testado nas bancadas. Por enquanto, a realidade concreta dos deputados é que os eleitores acreditam que terão direitos suprimidos na reforma previdenciária. E há dúvida se a retomada do crescimento se dará num ritmo forte o suficiente para transformar o governo num "player" importante da sucessão. Lula elegeu a desconhecida Dilma Rousseff navegando num crescimento de 7,5% nas eleições de 2010.
Na reunião de domingo no Alvorada, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, declarou aos presentes que entre março e maio haverá uma aceleração do emprego, o que significa aceleração da retomada do crescimento o que, por seu turno, significa a retomada de obra parada e o pagamento das emendas parlamentares. São assuntos que soam como música para o Congresso.
O discurso é sedutor para uma base aliada que nos últimos anos se habituou a compartilhar o poder como nunca antes. A manutenção do status quo anima os sete partidos e cria dificuldades para Geraldo Alckmin articular o centro político num forte polo de apoio a sua candidatura. Encostado à parede, o governador enfim terá que dizer o que recomenda à bancada do PSDB em relação à Previdência.
Um ministro diz que Alckmin até poderia ser o candidato do governo, mas para isso teria que casar de papel passado com o PMDB. "Não queremos ser a amante", diz. Em maior ou menor grau esse é um sentimento comum na base aliada. "Depende dele, Alckmin", diz um senador do PMDB do Nordeste que até outro dia estava pendurado na candidatura Lula, mas parece ter se convencido de que o petista não será candidato por motivos legais. Dentro do próprio grupo há quem defenda que, em vez de sete, sejam oito os partidos. O ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia), presidente do PSD, por exemplo, principalmente se a sucessão em São Paulo passar pela candidatura do senador José Serra (PSDB) a governador.
A questão regional, como sempre, será decisiva para a formação das alianças. Aliás, o Palácio do Planalto já trabalha também nisso. Ou seja, estratégia dos partidos, para ter sucesso, depende do uso da força, o que em última análise é o que significa o fechamento de questão.
Hoje a direção dos partidos é mais forte que antes da reforma política aprovada no fim de setembro. Quem controla o fundo eleitoral é o comando dos partidos, um extraordinário poder nas mãos de quem manda na legenda. É a direção partidária quem vai dizer quem recebe quanto do fundo para a campanha. E o risco dos filiados não é só o de ser expulso, como o PMDB fez recentemente com a senadora Kátia Abreu, do Tocantins. A situação pode ficar bem pior se houver um pacto tácito entre os presidentes do partido para os parlamentares expulsos não serem recepcionados por outras legendas.
A decisão sobre o candidato governista não será tomada agora. Em matéria de política, o Palácio do Planalto costuma jogar com a ansiedade dos outros e não com as próprias inquietações. O pré-lançamento da candidatura de Meirelles, por enquanto, serve mais para manter Geraldo Alckmin e o PSDB sob pressão - o candidato do Planalto para velejar eventual êxito econômico chama-se Michel Temer. E ajudar na votação da reforma. A Previdência respira!
Os candidatos e o Facebook
Estudo feito pela jornalista Claudia Tavares, da Agência Digit4l, faz uma curiosa descrição do público do Facebook de cada candidato. O de Jair Bolsonaro, por exemplo, é constituído 74% de homens. De longe, é o candidato com o maior público masculino. Bem atrás está Geraldo Alckmin (PSDB) com 53%; Marina Silva, a única mulher pesquisada, tem um público constituído 51% de homens. O universo pesquisado teve 54% de mulheres e 46% de homens.
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