Dadas a esmagadora impopularidade do governo e a escassez de apelo eleitoral de seu ministro da Fazenda, a hipotética candidatura de Henrique Meirelles (PSD) ao Planalto só é levada a sério em razão das dimensões do personagem.
Trata-se, possivelmente, do tecnocrata mais bem-sucedido das últimas três décadas de regime democrático, com ampla aceitação no setor empresarial e experiência no trânsito político.
Ex-presidente mundial do BankBoston, obteve em 2002 um mandato de deputado pelo PSDB goiano, do qual abriu mão para comandar o Banco Central, de modo ortodoxo, ao longo dos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Desde 2016, personifica o arrojado e doloroso programa de ajuste orçamentário e superação de quase três anos de recessão profunda.
Nada disso, entretanto, anima o eleitorado. Antes pelo contrário: além da reprovação de 71% dos brasileiros ao governo Michel Temer (PMDB), o mais recente Datafolha mostra que persiste forte pessimismo quanto às perspectivas da inflação e do desemprego.
Argumenta Meirelles, em entrevista a esta Folha, que a população gradualmente notará a melhora do cenário econômico —espera-se crescimento de 2% a 3,5% no ano eleitoral de 2018. Com isso, haveria maior apoio a um postulante associado à agenda de reformas.
Ainda que o raciocínio faça sentido, a retomada prevista é, na melhor das hipóteses, modesta. Nem de longe pode ser comparada ao impacto do Plano Real, que levou Fernando Henrique Cardoso (PSDB) da Fazenda à Presidência: naquele segundo semestre de 1994, o PIB avançava a uma taxa anualizada de vertiginosos 20%.
Neste momento, o governo Temer busca autoafirmação. Diante da iminente saída dos tucanos da coalizão situacionista e da quase certa candidatura presidencial do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, procura-se quem defenda na campanha o legado da administração do PMDB.
A Alckmin e seus correligionários faltam hoje, sem dúvida, convicção e coragem na defesa das mudanças previdenciárias e das privatizações. Entre a tibieza e o oportunismo, a legenda põe em risco a identidade reformista que construiu a partir dos anos FHC.
Ao se apresentar como possível aspirante ao Planalto, Meirelles sugere que o PSDB não terá o apoio automático e incondicional das demais forças ao centro do espectro partidário do país.
Entretanto o ministro picado pela mosca azul acrescenta um complicador, infelizmente, à já conturbada negociação parlamentar para o redesenho do insustentável sistema nacional de aposentadorias.
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