O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deu um sopro de otimismo, apesar da apreensão com o futuro da reforma da Previdência, com o ajuste das contas de 2018 e com a provável turbulência com as eleições. O otimismo veio não propriamente no resultado pontual do PIB, mas da composição desse número, que trouxe o primeiro aumento dos investimentos após 15 trimestres consecutivos de baixa, e a expansão da indústria e dos serviços, mostrando a extensão da retomada, liderada pelo consumo das famílias.
O PIB registrou crescimento de 0,1% no terceiro trimestre sobre o segundo, menor do que o de 0,3% esperado em média por economistas e analistas. Pelo lado da oferta, foi afetado pelo recuo de 3% da agropecuária, contrabalançado pelo crescimento de 0,8% da indústria e de 0,6% dos serviços. Mas foi o terceiro trimestre seguido de alta, acumulando expansão de 0,6% no ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo que o trimestre atual fique empatado, apesar do impulso cíclico provocado pelas vendas de Natal e pagamento do 13º salário, o PIB tem boas chances de fechar o ano em 1%, acima do 0,6% antes projetado. Os números já provocaram o aumento da projeção para o resultado do ano, colhida pelo Banco Central em sua pesquisa semanal Focus, que subiu de 0,73% para 0,89%. A estimativa para 2018 também foi contagiada e passou de 2,5% para 2,6%, superando os 3% em algumas planilhas.
O consumo das famílias continuou crescendo, pelo lado da demanda, desfazendo o temor de que o fôlego se esvaziaria passado o impacto da liberação dos R$ 44 bilhões em recursos do FGTS. Um mix de outros fatores entrou em jogo, estimulando as compras e o crescimento de 1,6% do comércio, entre os quais a queda da inflação, o recuo dos juros, uma certa melhoria da oferta de crédito para as pessoas físicas, a reação do mercado de trabalho com aumento da massa salarial, e, mais recentemente, a liberação de recursos do PIS/Pasep, que deve somar R$ 16 bilhões.
O mais animador, porém, foi a reação dos investimentos, com aumento de 1,6%, disseminado entre diversos setores da economia (Valor, 4/12), evidenciado no aumento da importação e da produção interna de bens de capital. apesar da retração da construção. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calculou que o investimento, medido pela formação bruta de capital fixo (FBCF) cresceu 5% em relação segundo trimestre, feito o ajuste sazonal, como resultado do aumento de 3,3% na produção e de 23,8% nas importações.
A expectativa é que o investimento continue crescendo no próximo ano. Depois de um longo período de contenção, as empresas devem reagir ao aumento da demanda, modernizando ou trocando os equipamentos. A existência de capacidade ociosa explica a raridade de iniciativas de aumento das instalações. Há ainda previsão de aumento dos investimentos em infraestrutura nas áreas de energia elétrica, telecomunicações, saneamento e transportes.
A comemoração de alguns aspectos do PIB do 3º trimestre não impede que se reconheça que o resultado continua modesto. Levando-se em conta o crescimento de 1,4% na comparação entre o 3º trimestre deste ano e igual período de 2016, constata-se que só não foi menor do que o de dois outros países, Dinamarca e Suíça. Mesmo reagindo, a taxa de investimento ainda está extremamente baixa, em 16,1%, e pode fechar o ano inferior a 16%. A taxa de poupança ficou em 15,2% do PIB. O consenso é de que o investimento é baixo porque a poupança, especialmente a do governo, é ainda mais baixa devido ao elevado déficit das contas públicas.
Se tudo correr bem, estima a Tendências Consultoria, a taxa de investimento deverá ficar acima de 20% em 2025. Não é grande coisa porque tradicionalmente se sustenta que, para crescer acima de 3% ao ano por um longo período, um país precisa ter uma taxa investimento acima de 25% do PIB. A China, que cresceu 6,8% no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período de 2016, tem uma taxa de investimento de 44% e de poupança de 45% do PIB.
A comparação dá boa ideia dos desafios que vêm pela frente para se recolocar a economia na trilha do crescimento, entre os quais está avançar no ajuste fiscal e na reforma da Previdência, apesar do ambiente certamente conturbado pela disputa eleitoral.
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