Lucinda Pinto e José de Castro | Valor Econômico
SÃO PAULO - Uma solução à la 1994 - quando o então ministro da Fazenda fez da estabilização da economia a plataforma política que o levou à Presidência da República - é um sonho do mercado financeiro para o resultado da eleição de 2018. Mas nem o mais otimista dos agentes vê hoje chances concretas desse feito se repetir.
Se Fernando Henrique Cardoso estabilizou a economia e debelou a hiperinflação, Meirelles tem como legado a retomada do crescimento econômico, após a mais longa e intensa recessão da história, num ambiente de inflação e juros baixos. Mas os efeitos dessas conquistas não devem ser completamente percebidos pela população a tempo de conferir-lhes os votos necessários. Além disso, sem uma história política consistente, o ministro não encontra nas pesquisas respaldo para a pretendida candidatura. "Meirelles seria um nome excelente, mas sair dos 2% para 6% nas pesquisas até março seria uma tarefa hercúleo", define o gestor de um fundo de São Paulo, referindo-se ao prazo que os eventuais candidatos têm para se desincompatibilizar com seus cargos no governo e disputar a eleição.
Meirelles é um velho conhecido do mercado e, por isso, seu nome agrada. Como presidente do Banco Central no governo Lula (entre 2003 e 2010), Meirelles conduziu uma política monetária crível e independente, que manteve a inflação sob controle, além de avançar na agenda da regulação bancária. Já na Fazenda, é um dos grandes defensores e negociadores de uma agenda que passa pelas reformas da Previdência e Trabalhista, medidas microeconômicas, controle de gastos, redução dos incentivos fiscais e privatização. Combinação que soa como música aos ouvidos do mercado.
"Não há nenhuma dúvida que Meirelles teria um plano de governo tão positivo quando o de [Geraldo] Alckmin e, por isso, avaliação da sua candidatura seria excelente para o mercado", afirma um profissional. "Mas não acredito que ele tenha chances de vencer."
"A ideia de Meirelles presidente da República agrada o mercado, mas entre isso e acreditar numa vitória do atual ministro da Fazenda nas eleições do ano que vem há uma enorme distância", diz outro profissional.
É sob essa leitura que o mercado vem acompanhando os movimentos de Meirelles, que "claramente quer ser candidato". Mas, até aqui, o ceticismo com a capacidade do ministro atrair votos tem enfraquecido o debate nas mesas de operação e limitado reações positivas dos preços dos ativos diante dessa possibilidade. "Ele não tem muita chance, especialmente contra Lula", diz o profissional, segundo o qual o nome que poderia "brigar" com o petista seria o apresentador de TV Luciano Huck, que já se declarou fora da disputa presidencial.
O risco de pulverização dos votos de centro-direita, num cenário em que Meirelles e Alckmin se lançassem candidatos, é outro ponto analisado e que poderia pesar negativamente. Mas, como ambos têm fraco desempenho nas pesquisas, a visão é que o mais provável é que PMDB e PSDB se unam em prol de Alckmin. "A grande questão aí é se Lula vai concorrer ou não. Ele concorrendo, é preciso, de fato, que os demais se organizem. Mas sem Lula automaticamente o mercado tem um alívio", acrescenta um profissional.
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