- IstoÉ
Ainda que os atuais resultados das pesquisas eleitorais preocupem, existe um exército de homens “mornos” no País que ainda não tomaram sua decisão
Em sua obra célebre, Dante Alighieri previa a existência de um “Anteinferno” após a morte, onde ficariam os “mornos”, ou seja, aqueles que viveram sem infâmia, mas também sem louvor. Que passaram a vida diante de um largo muro sem tomar posição e foram parar nesse “Anteinferno” exatamente por isso. No momento, a maior parte do eleitorado brasileiro não está correndo o risco de ir para o “Anteinferno”. Está correndo o risco que ir para o Inferno mesmo.
Isso porque quando olhamos as pesquisas de intenção de voto para 2018, vemos uma maioria tomando posição a favor do ex-presidente Lula (PT) ou do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Esses dois líderes das pesquisas de opinião representam alegorias justamente do que não devemos desejar para o País. Representam faces distintas do mesmo conservadorismo populista e demagógico que devemos repudiar. Conservadorismo radicalizado por uma narrativa demagógica e teatral poluída de meias verdades e de verdades mambembes.
Não devemos, contudo, condenar os eleitores que escolhem o abismo. Tal escolha é fruto do fracasso de nossas elites em levar o debate político para o seu devido patamar. As escolhas ruins, atribuídas ao populacho, refletem diversos fatores. Entre eles, o fiasco do mundo político, a ignorância da população e a omissão das elites em abordar a questão política com a devida seriedade.
No entanto, quando perguntados sem a indicação de nomes de presidenciáveis, esses eleitores assumem a postura dos “mornos”. De acordo com a última pesquisa Datafolha, 19% dos entrevistados não votariam em ninguém; e 46% ainda não sabem em quem votar. Ainda bem. Que desçam para o lado certo do muro.
Depois da pior recessão de nossa história, que jogou milhões na miséria e no desemprego, não devemos buscar soluções irresponsáveis. Para o cidadão comum, estamos longe do Carnaval e da Semana Santa. A eleição presidencial também é um evento longínquo, que hoje não está em suas preocupações do dia a dia.
Portanto, ainda que os atuais resultados das pesquisas eleitorais preocupem, existe um exército de homens “mornos” no País que ainda não tomaram sua decisão. Que vão esperar o ambiente econômico melhorar, bem como o governo se posicionar para a corrida eleitoral. Um quadro mais aborrecido na economia favorecerá as mensagens anti-establishment; já em uma situação de melhora ambiental, as soluções deverão ser mais influenciadas pela racionalidade.
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É cientista político
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