A hipótese de venda da Embraer para a Boeingcausou excitação e celeuma, em boa parte por mexer com os nervos nacionalistas brasileiros. Entretanto as reações de pretensos guardiões dos interesses estratégicos pátrios parecem, nesse caso, ainda mais desinformadas que de costume.
Há interesse nacional envolvido, de fato. Convém ao país que a fabricante de aeronaves tenha sucesso, cresça e continue a desenvolver sua capacidade de competir e desenvolver tecnologia.
É necessário ainda resguardar o fornecimento de equipamento de defesa e, talvez, o desenvolvimento futuro de material aeroespacial, uma competência possível da empresa que pode ser explorada pelo Estado, por exemplo.
No mais, trata-se de negócios. Quanto à suscetibilidade nacionalista mais primitiva, note-se que o controle da Embraer está pulverizado, sendo suas ações na maior parte de propriedade de investidores institucionais estrangeiros.
A empresa já tem fábricas nos Estados Unidos e, de resto, parcerias cruciais com a própria Boeing e com a sueca Saab, entre outras.
Acerca da natureza da transação, por ora não se conhecem detalhes. São diversas as possibilidades de associação entre as duas companhias, em tese de grande interesse para a brasileira.
Em primeiro lugar, a ex-estatal precisa tomar seus cuidados no que diz respeito à reorganização do mercado de aviação.
Ela tem sido bem-sucedida no negócio de aviões médios e de aviação regional, que cresce e, por isso mesmo, será objeto de disputa. Concorrentes chineses, russos e japoneses pretendem entrar no setor; haverá fusões, aquisições e associações. A Embraer precisa ganhar musculatura.
Em uma parceria com a Boeing, a empresa tem oportunidade de ganhar escala, volume de produção e ampliação na prestação de serviços. Pode também aproveitar características complementares e se tornar mais eficiente.
A gigante americana tem mais peso, acesso a mercados e uma gama maior de tecnologias, facilidades a serem compartilhadas com a eventual sócia. Outra vantagem em potencial para a Embraer seria a redução de custo para obter recursos, dada a sua nova dimensão.
São benefícios hipotéticos, teóricos e de negociação complexa. É bastante provável que a direção da empresa e seus acionistas principais tenham conhecimento mais preciso da transação.
O governo brasileiro tem poder legal de veto e motivos razoáveis de preocupação. Não deveria, porém, ser obstáculo ao crescimento da Embraer, em nome de míticas e nebulosas questões estratégicas. De concreto, interessam ao país empresas fortes e eficientes.
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