- O Globo/Coluna do Ancelmo Gois
Há alguns anos vivemos sensação de desalento. O progresso mostrou-se ser uma linha descontínua ao contrário da corrupção e dos desmandos. Anomia (desregramento) nas finanças e nos valores. Baixa nos padrões de civilidade, o que as torcidas organizadas de clubes de futebol refletem exemplarmente sem que polícia ou clubes consigam controlar. Quem freia o mau governo ou as torcidas selvagens? Como reverter esse quadro? Não há partidos ou ideologia política que ofereçam respostas convincentes.
O “rouba mas faz” foi a institucionalização do cinismo; O “sou contra mas quero minha parte do bolo”, desmoralizou a oposição. Para as eleições de 2018 o eleitor está abandonado. As elites se distanciam das virtudes republicanas. A fórmula para o candidato vencedor em 2018 não tem fórmulas mágicos. Apenas implementar uma política criativa para combater a desigualdade social e uma política financeira responsável sem truques ardilosos. Precisamos mais do velho Aristóteles: a virtude está no meio.
A proliferação de candidatos ao centro, esquerda e direita, embora seja um bem-vindo sinal de pluralidade política pode, neste momento, ser um desastre exemplar. Corre-se o risco de ter um segundo turno com dois candidatos populistas, embolorados, com pequena margem de votos, embora percentualmente mais votados. Como em toda eleição, nesta jogaremos nosso futuro. Só que desta vez o cenário é o pior enfrentado pela República. Estão em jogo a vida de milhões de brasileiros e a unidade nacional. Vivemos hoje uma secessão de fato, não uma guerra civil, mas uma secessão de guetos em que polícia e outras instituições do Estado não entram.
Um verdadeiro esgarçamento do tecido social com o agravante de que a elite também se transformou em um gueto inexpugnável para o exercício da delinquência.
Felizmente, sempre sobram alguns sensatos e o destino do país está nessas mãos.
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Maria Celina D'Araujo, cientista política
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