segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A sombra do populismo: Editorial/Folha de S. Paulo

Era janeiro, e as vitórias de Donald Trump nos EUA e do 'brexit' no Reino Unido ainda estavam frescas. Estimulada por esses triunfos do discurso nacionalista, Marine Le Pen, líder francesa de extrema-direita, afirmou que 2017 testemunharia um "despertar" contra as políticas da União Europeia e a acolhida de imigrantes.

Findo o ano, pode-se dizer que o vaticínio não se comprovou da maneira como a dirigente imaginava –mas tampouco se mostrou irrelevante o avanço de partidos norteados pelo populismo xenófobo. Seu teste nas urnas se deu em diversos países, com destaque para as duas maiores economias da Europa continental.

A começar pela França, onde Le Pen e sua Frente Nacional (FN) superaram legendas tradicionais para disputar um inédito segundo turno. Direita e esquerda se uniram em torno do centrista Emmanuel Macron para evitar a chegada da extremista ao poder.

Embora a candidata não tenha alcançado a Presidência, não há como negar que o crescimento da FN refletiu a rejeição a siglas históricas, em especial o Partido Socialista. Por anemia eleitoral, o ex-presidente François Hollande nem tentou o segundo mandato, e o postulante da legenda terminou num melancólico quinto lugar.

Já a Alemanha confirmou o favoritismo de Angela Merkel, que chegou ao quarto mandato. O feito, contudo, acabou ofuscado pelo desempenho da ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha), que obteve 13% dos votos e detém agora a terceira maior bancada do Parlamento.

O resultado nada desprezível contribuiu para o impasse em que se vê a conservadora CDU, de Merkel. Passados três meses do pleito, ainda não se formou uma coalizão para sustentar o governo, atravancando os planos da chanceler.

Na vizinha Holanda, temia-se que o radical anti-imigração Geert Wilders se tornasse primeiro-ministro, mas o atual mandatário, Mark Rutte, conseguiu se reeleger.

A instalação da extrema-direita no poder, porém, revelou-se inevitável na Áustria, onde o governo conservador se uniu ao FPÖ, terceiro colocado nas urnas. Com uma plataforma de aversão a imigrantes e ao islamismo, o partido exibe em suas fileiras simpatizantes do pensamento nazista.

O populismo nacionalista encontrou ressonância, pois, em boa parte da Europa. Aos governantes acossados por esse fenômeno cabe detectar os motivos das frustrações do eleitorado, além, claro, de buscar respostas compatíveis com a democracia e a tolerância.

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