Andrea Jubé e Vandson Lima | Valor Econômico
BRASÍLIA - O fim do julgamento que confirmou a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância por unanimidade dos três desembargadores, mostrou um PT forte na reação pública e receoso nos bastidores. Ao mesmo tempo que divulgou uma nota em que classificava o julgamento de "farsa judicial" e de haver "engajamento político-partidário de setores do sistema judicial", cresceu o temor de que o resultado dissemine o desânimo entre a militância e esvazie o apoio nas ruas à candidatura petista à Presidência da República.
A cúpula petista pressentia a condenação, mas havia a expectativa de que o placar de 2 x 1 desse mais subsídios aos recursos e argumento para a militância. Outra percepção era de que o voto divergente pavimentasse com mais solidez o caminho para a obtenção de liminares nos tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
A Executiva Nacional do PT reúne-se hoje, em São Paulo, para sacramentar a decisão de registrar a candidatura de Lula, a não ser que uma ordem judicial de caráter definitivo o impeça de disputar a eleição. Enquanto avança o embate nos tribunais, Lula redige a nova "carta aos brasileiros" e o programa de governo, que tem como espírito a "volta aos bons tempos".
Apesar da condenação, Lula prosseguirá sua agenda com duas frentes de ação. De um lado, reunindo-se com advogados para traçar as estratégias recursais para que ele consiga estender o debate em torno da condenação até 15 de agosto, prazo do registro da candidatura. Em outra frente, Lula mantém as reuniões para elaboração do programa de governo.
Em nota oficial, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), classificou de "farsa judicial" e acusou os três desembargadores de declararem "votos claramente combinados". "O resultado do julgamento do recurso da defesa de Lula, no TRF-4, com votos claramente combinados dos três desembargadores, configura farsa judicial", apontou. O partido afirma haver "engajamento político-partidário de setores do sistema judicial, orquestrado pela Rede Globo, com o objetivo de tirar Lula do processo eleitoral". A Rede Globo, do mesmo grupo ao qual pertence o Valor, divulgou a seguinte nota: "A menção à Rede Globo na nota do PT, sobre a manutenção pelo TRF-4 da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, merece apenas um comentário: ela é desrespeitosa, despropositada, fora da realidade."
O revés de Lula, na leitura do PT, faz parte da mesma orquestração que levou ao impeachment de Dilma Rousseff. "São os mesmos setores que promoveram o golpe do impeachment, e desde então veem dilapidando o patrimônio nacional, entregando nossas riquezas e abrindo mão da soberania nacional, retirando direitos dos trabalhadores e destruindo os programas sociais que beneficiam o povo."
"Se pensam que a história termina com a decisão de hoje [ontem], estão muito enganados, porque não nos rendemos diante da injustiça. Os partidos de esquerda, os movimentos sociais, os democratas do Brasil, estamos mais unidos do que nunca, fortalecidos pelas jornadas de luta que mobilizaram multidões nos últimos meses. Hoje é o começo da grande caminhada que, pela vontade do povo, vai levar o companheiro Lula novamente à Presidência da República".
Após a confirmação da condenação, o presidente do PT do Rio Grande do Sul, deputado federal Pepe Vargas, defendeu que o partido busque uma "grande unidade do campo democrático e de esquerda". Para Vargas, uma unidade eleitoral já no primeiro turno seria "o ideal", mas não há problema se houver mais de um candidato de esquerda na eleição deste ano. Ele citou PT, PDT, PCdoB, Psol e "setores democráticos do PMDB", numa referência direta ao senador Roberto Requião (PR), como possíveis integrantes desta unidade. Segundo ele, o "campo democrático, popular e de esquerda" tem "várias lutas pela frente" e precisa ter "capacidade de superar eventuais divergências e construir uma plataforma mínima comum".
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) disse que haverá reação popular à decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Em nota, Dilma disse que a luta popular persistirá. "Vamos lutar em todas as instâncias do Judiciário pelo direito do ex-presidente Lula ser candidato. Mas vamos lutar por Lula e pela democracia em todos os recantos, nas ruas, na cidades e no campo do nosso Brasil. Nós iremos reagir à decisão injusta tomada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região, em Porto Alegre, ao confirmar a sentença absurda e facciosa que condenou o ex-presidente Lula."
Segundo ela, Lula é inocente e vítima de perseguição política e que a confirmação de sua condenação é uma nova versão do golpe [sofrido por ela em agosto de 2016]. "Uma eleição que vier a impedir o ex-presidente Lula de concorrer não terá legitimidade." (Colaborou Sérgio Ruck Bueno, para o Valor, de Porto Alegre)
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