Partido teme perda de poder no Estado com especulação sobre apoio a França
Igor Gielow / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A ambiguidade com a qual o governador Geraldo Alckmin (SP) trata a própria sucessão tem exasperado seu partido, o PSDB. Na mesa, a manutenção do poder da sigla em São Paulo e os efeitos do imbróglio na postulação presidencial do tucano.
O pivô do debate é Márcio França, o vice do PSB que assumirá assim que Alckmin se desincompatibilizar em abril para concorrer ao Planalto.
O tucano pronunciou-se diversas vezes, nas últimas semanas, sobre ser favorável a uma candidatura única de sua base em São Paulo.
Isso bastou para que alas contrárias à hoje favorita no PSDB pré-candidatura do prefeito João Doria, em especial as ligadas ao senador José Serra, que desistiu de concorrer, darem gás à ideia de que o governador havia fechado com França.
Segundo aliados do tucano, Alckmin, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, está no modo dizendo sim a todo mundo: a quem vê França como bom nome e a quem não admite que o PSDB perca o protagonismo após governar São Paulo desde 1995 (fora o breve interregno do então PFL de Cláudio Lembo em 2006).
A verdade permeia as duas narrativas, segundo a Folha ouviu de estrategistas tucanos, políticos e empresários ligados a Alckmin ao longo desta semana.
A mediana encontrada aponta que o governador vê a candidatura França com muita simpatia e até toparia ir só com ela, mas acredita que ao fim o PSDB tenderá a lançar seu candidato.
O que assusta Alckmin é o fantasma de 2008, quando foi candidato tucano contra um Gilberto Kassab (PSD, então no DEM) com a caneta de prefeito de São Paulo na mão. Ambos eram da mesma base, e Alckmin foi trucidado.
O temor sugerido é de que França acabe não engajando prefeitos que possa vir a cooptar para sua campanha na disputa presidencial de Alckmin, ainda que o hoje vice prometa apoio total.
Secretários de Estado interessados em manter a cadeira com França espalharam que o pessebista poderia se filiar ao PSDB, mas o boato até esta sexta (2) era só isso.
França tem de mostrar serviço para viabilizar suas pretensões. Até aqui só tem apoio do PR e, talvez, do PCdoB, Pros e Solidariedade.
Embora a ala serrista do PSDB esteja disposta a indicar um vice para França, mesmo que seja para espezinhar Doria, o partido tem maior poderio se for para disputa com aliados tradicionais no Estado, como DEM e PSD.
O nó aqui é a composição da chapa e o papel do MDB. No primeiro item, o fator central é Doria, que é considerado ex-prefeito a partir de abril por adversários e aliados. Oficialmente, ele desconversa e defende candidatura própria.
A questão é que há outros pré-candidatos (Floriano Pesaro, Luiz Felipe DÁvila, José Aníbal). Quem conhece o prefeito diz que ele sai mesmo sem prévias realizadas, e seus estrategistas já contam bem mais do que 50% dos 4.000 votos de delegados.
Uma questão é como acomodar o MDB de Paulo Skaf, que deu sinais de querer disputar a eleição de novo.
Há a vaga de vice e dois postos para o Senado, e tudo indica nas conversas com Doria que Skaf se encaminha para tentar ir a Brasília, caso o acerto acomode PSD e DEM.
Do ponto de vista nacional, Alckmin gostaria de contar também com o apoio de Márcio Lacerda, provável candidato a governador do PSB na terra arrasada partidária que é o segundo maior colégio eleitoral brasileiro, Minas.
Mas o partido é uma federação em guerra, e o tucano sabe que não contará com a poderosa ala de Pernambuco da sigla, que de resto agrega pouco em tempo de TV.
O time do governador, que pontuou 8% num cenário realista (sem Lula e com Luciano Huck) no Datafolha desta semana, se preocupa com essa indefinição. Teme que ela reforce a imagem de inação do tucano junto aos potenciais aliados nacionais. Alckmin, contudo, mandou avisar seu time que não mudará a tática de jogar parado.
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