- O Estado de S.Paulo
Maior teste da esquipe econômica de Temer ainda virá: segurar o crescimento de gastos em ano eleitoral
Na véspera do último feriado de Natal, o clima azedou no Ministério da Fazenda. A negociação pelo Palácio do Planalto de uma medida provisória para autorizar o socorro de R$ 600 milhões para o Rio Grande do Norte abriu uma fissura no time do presidente Michel Temer.
Por muito pouco a equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não teve de lidar com uma rebelião da área técnica e o risco de entrega de cargos, caso a operação fosse concluída. Estava em jogo muito mais do que o gasto orçamentário para ajudar o Estado. Se o empréstimo saísse, não só traria problemas jurídicos como também abriria um precedente de difícil controle em ano eleitoral. Governadores e prefeitos iniciariam uma romaria à Fazenda pedindo o mesmo tratamento.
O episódio foi a gota d’água após um período de três meses de derrotas importantes e seguidas, que baixaram a moral do “dream team”, o time de ouro, como foi apelidada a equipe econômica assim que desembarcou em Brasília para resolver a crise fiscal.
A equipe já tinha sido derrotada em cinco Refis (parcelamentos de débitos tributários), adiamento da votação da reforma da Previdência e a não aprovação de pacote de medidas fiscais pelo Congresso. Para piorar, estava tendo de lidar com várias tentativas de volta de políticas de subsídios condenadas, como o Rota 2030 – programa de incentivos para a indústria automotiva –, enquanto a agenda de aumento da produtividade e o projeto de recuperação judicial das empresas estacionaram na Casa Civil.
O desânimo só aumentou. Ainda mais depois da manobra dos aliados para aprovar uma lei de socorro de R$ 15 bilhões para a Caixa com recursos do FGTS e da demissão, sem aviso à Fazenda, do presidente do Banco do Nordeste (BNB), Marcos Holanda, numa queda de braço entre o ministro Moreira Franco e o presidente do Senado, Eunício Oliveira.
Em meio ao quase funeral da reforma da Previdência, à concessão de novas medidas que pressionam os gastos públicos e após o baque do rebaixamento do Brasil pela S&P, o dream team tenta se equilibrar para defender o ajuste numa política de redução de danos.
Principalmente num momento em que o ministro Meirelles sofre ataques seguidos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de líderes aliados e até mesmo de ministros políticos, depois que começou a sua peregrinação na tentativa de se candidatar à Presidência de República.
Os secretários Eduardo Guardia (Executivo) e Ana Paula Vescovi (Tesouro) têm feito uma muralha de defesa do ajuste. Guardia se transformou no “Sr. Não” do governo Temer e, por essa razão, já foi “demitido” diversas vezes por políticos no próprio gabinete. O secretário Mansueto Almeida e o assessor especial Marcos Mendes ficam na retaguarda de defesa do ajuste.
Única mulher na equipe, Ana Paula também está à frente do conselho de administração da Caixa, onde enfrenta renovadas resistências depois de conseguir emplacar o novo estatuto, que busca barrar o loteamento político no banco. O estatuto já estava pronto havia seis meses e só saiu da gaveta no rastro do afastamento de vice-presidentes do banco envolvidos em irregularidades, que teimosamente Temer insistia em manter nos cargos.
A rede de intrigas contra Ana Paula aumentou depois da suspensão dos contratos de empréstimos aos governos estaduais e municipais – um arsenal poderoso em ano de eleições. Políticos querem a redução da sua interferência na Caixa e para isso atacam Meirelles.
Mas o maior teste para o dream team ainda virá: segurar o crescimento dos gastos em ano eleitoral. Por enquanto, o único antídoto para as pressões nas eleições é o teto de gastos que limita o crescimento das despesas.
O anúncio da desistência da votação da reforma da Previdência pela falta de votos, que está próximo de ocorrer, só vai aumentar o desafio.
O dream team terá de se reinventar e emplacar a agenda que ficou à sombra da reforma da Previdência.
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