Cristovam Buarque é um dos mais ardorosos defensores da educação no Brasil. Tem pautado a sua vida pela valorização do ensino, trabalhando com denodo para que retomemos aos tempos da década de 60, quando a educação escolar público se sobrepujava a particular.
De suas ideias, sugestões e projetos, tempos atrás apresentado ao Senado, podemos divisar luzes surpreendentes e, cremos, teremos num futuro bem próximo a qualidade que era uma constante em tempos idos.
Assim é que, recentemente, neste “blog” foi inserido o artigo “Aglutinar valores da civilização contra a barbárie”, do escritor e historiador Ivan Alves Filho que, sinceramente, merece uma grande reflexão e tomada de decisões a respeito de uma figura respeitabilíssima como a do Cristovão Buarque.
Pois, bem. Reporto-me, nesta questão da educação, os meus tempos de criança. É que com o chegar da idade, já começamos a lembrar do passado. E isto é comum nas pessoas que atingem o mais de 60/70 anos.
Na rua Sinharinha Frota, esquina com a rua João Vaz, na minha terra natal Capivari, em décadas passadas, havia um armazém. Parece-me que era “Armazém do Possatto”, onde tudo se vendia. Era como o Armazém do Lembo: alimentos, roupas, implementos agrícolas, etc.
Ali ficava, também, como que uma visita constante, um senhor baixo, de óculos de aro, de nome Pompeu. Era uma figura popular, silenciosa, caminhando sempre com vagar e pensativo.
Não rara as vezes, perguntávamos para esta figura capivariana: - “Pompeu! A educação manda! E ele respondia a todos, com a sua firmeza de palavras:
- A educação manda!
Passavam-se os anos e a qualquer um que lhe dirigia a palavra, Pompeu não se cansava de dizer “A educação manda!”.
Ficou-me, na memória, aquele homem simples, de olhar profundo, de uma bondade maior e de um sorriso sem igual.
E sempre que encontrava alguém, vinha com a sua tirada: “A educação manda!”. Era interminável na repetição.
Reflito, hoje, sobre esta interessante particularidade de um homem que de sua boca saia estas palavras mágicas que se sobressaem de um senador, do quilate de Cristovam Buarque.
Buarque é um professor nato; homem de qualidades indiscutíveis e pensador da nossa educação.
Penso, sinceramente, que o espírito da simplicidade do Pompeu veio a cair sobre a sua mente. E isto de defesa da escola, do professor, do ensino como um todo, reflete na alma do nosso representante no Senado Federal.
Em sua homenagem, transcrevo o que a redação do jornal “Gazeta de Capivary”, em sua edição do dia 26 de janeiro de 1908, estampou na primeira página. Isto há mais de 100 anos:
A ESCOLA E O PROFESSOR
“O homem, na grandiosa e admirável harmonia do universo, segue uma marcha natural, vive e passa. Daí, o elo contínuo que prende os pedaços desjuntos dessa grande cadeia que chamamos sociedade. Enquanto à sombra de seus louros, cercados das ostentações impassíveis aos gloriosos conquistadores do saber, a mocidade de hoje, que é o elemento constitutivo da sociedade do amanhã, entra para a escola, a educação sublime e benfazeja, assenta a sua base no seio infatigável do povo, levanta seus últimos degraus no cume dos triunfos mais completos que o espírito humano tem alcançado. A escola é o santuário que oculta a âmbula de nossas afeições mais santa; o templo onde arde o facho da razão que ilustra e onde educa o coração par amar. Ilustrar a inteligência, educar o coração, abrir novos horizontes ao espírito humano – eis os três grandes objetivos da escola. Escola é o templo onde todas as nossas aspirações se reúnem num só ideal de luz, quando a essência de nosso pensamento é Deus. Cultivar o espírito, criar na inteligência um novo mundo cheio de primores, libertar o espírito das trevas – tal é a missão evangelizadora da instrução. Para esse fim, basta uma capacidade medíocre, a par de uma boa vontade gigantesca. O mais difícil, porém, é a formação moral da mocidade, sobre cujos braços necessariamente tem de repousar os destinos supremos da pátria estremecida. Adornar esses corações com virtudes, falar-lhes a linguagem do estímulo e da persuasão, guiá-los, como Moisés, pelo saibro adurente, em uma palavra, acender em seu peito a chama sagrada do amor filial e pátrio – é esse espinhoso mister confiado ao apóstolo da luz, da verdade e do direito – o professor. A escola é, pois, esse recinto silente e sagrado, onde a criança logo ao despontar do raciocínio, embalsama o espírito com as hostes da ciência. Ela é necessária ao homem, como ao astro o seu centro de gravidade. Um povo sem instrução é um cérebro vazio. Assim, se o sol é o rei do dia, a cátedra é um sacrário aberto que o espírito humano comunica a luz e a vida. E o mestre, como sempre, é o mesmo sacerdote devoto e ilustrado, fiel observador dessa divisa sagrada, através dos séculos – só por si uma epopéia sublime: Deus, Pátria e Liberdade!”
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