- O Estado de S.Paulo
Notória a desilusão com o mercado da política. Partidos e lideranças não apenas não representam, como estão quase todos desgastados. De modo incontornável, derretem envolvidos em processos que escandalizam a sociedade; expressam eles próprios o impasse que se quer superar. O enfastiamento com a crise e a repugnância pelos políticos são evidentes.
Nesses momentos, a sanha pelo novo expande-se no ar. À esquerda, ao centro e à direita, surgem ‘outsiders’: Guilherme Boulos, Luciano Huck e Jair Bolsonaro, cada um no seu quadrado, expressam esse fenômeno. A insistência com o nome de Huck é, assim, compreensível. Questão estrutural. Se é que se trata de invenção, ela apenas responde a um problema real. Não é Huck, é o vazio que clama por preenchimento.
Esse vazio gera inquietação em agrupamentos de classe média. Divorciados dos partidos tradicionais e contrários aos ‘haters’ das redes sociais, esses grupos buscam ansiosos por algum meio de renovação. Seja por identificação ou falta de opção, enxergam em Luciano Huck a idealização do novo e a difícil ruptura com o velho que abominam.
A especulação é ainda mais atiçada pelas dificuldades do autoproclamado centro democrático e pela condenação do ex-presidente Lula. Ambas alimentam esperanças de que um nome popular e moderado – distante dos radicais e com livre diálogo ao eleitorado carente – possa preencher os vazios e retirar o País de sua grande crise. Argumentos favoráveis e contrários à candidatura de Huck não faltam. O vazio persiste.
A questão que se coloca é se o ‘outsider’ – qualquer que seja – será capaz de competir no mercado barra-pesada da política brasileira. Depois, se terá condições de governar diante de um sistema pleno de vícios e armadilhas. Mais ainda: se conseguirá romper com ele, despertando o ansiado novo.
Disse Riobaldo que “sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!”. Como o sertão, política requer astúcias.
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*É cientista político e professor do Insper
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