- O Estado de S.Paulo
Combater metástases como a do Rio pode se tornar uma bandeira política forte
Diz-se em política que algumas oportunidades, como uma candidatura à Presidência da República, surgem uma vez na vida. E somente para alguns. No caso do presidente Michel Temer, ela surgiu com a crise na segurança do Rio de Janeiro, crise agravada por problemas fiscais, financeiros, psicossociais, de gestão, de credibilidade e comportamentais de políticos de peso do Estado.
Na avaliação de Temer, o que ocorre no Rio de Janeiro é uma metástase que se espalha pelo País e ameaça os cidadãos. Combatê-la pode se tornar uma bandeira forte. Se é uma metástase, se ameaça o País e seus cidadãos, por que não um presidente de taxa de aprovação quase nenhuma não ver nela a sua oportunidade? Essa é a grande aposta de Temer para tentar também entrar no jogo político e, se tudo der certo, apresentar-se para sua própria sucessão.
Temer convive hoje com uma ideia fixa, que é a de tentar provar ao Brasil que não se envolveu em irregularidades, mesmo que o teor da conversa dele com o empresário Joesley Batista deixe tanta gente com a pulga atrás da orelha. O presidente acha que, assim como reduziu os juros e a inflação a taxas muito baixas, e tomou medidas que fizeram com que a economia começasse a entrar novamente nos trilhos, se conseguir reduzir a criminalidade no Rio, terá o que mostrar ao eleitor.
Paralelamente, ele acredita que poderá começar a defender sua honra, posta sub suspeita desde que foi divulgado o teor da conversa dele com o empresário Joesley Batista, e que um de seus principais assessores, o ex-deputado Rocha Loures (MDB-PR), foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil.
Temer começou também a desconfiar de que nenhum dos três candidatos do centro político que já se apresentaram até agora – Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Rodrigo Maia – estão dispostos a fazer a defesa de sua honra nem a do legado do governo. Nesse caso, tem dito a ministros mais próximos, é hora de ele mesmo começar a trabalhar a seu favor.
O que dá a Temer a esperança de que possa conquistar alguns pontinhos na baixa popularidade com a intervenção na segurança do Rio de Janeiro é o fato de que o general Braga Netto responderá diretamente a ele, sem precisar passar pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas. Portanto, o que for feito de positivo para a segurança dos fluminenses, será computado para Temer.
Some-se a isso a certeza hoje existente na cabeça de Temer de que sem a presença de Lula na disputa há um espaço enorme a ser ocupado. E que se há algo que atrai o eleitor em relação ao deputado Jair Bolsonaro é o fato de ele ter incorporado o discurso em relação à segurança pública.
Se conseguir dar um jeito na questão da insegurança do Rio, Temer sairá ganhando. Se não conseguir, não perderá nada. Só que ele não admite que existem riscos de que não vai conseguir.
O jogo político é esse. Mas existem algumas consequências que podem surgir do decreto de intervenção que devem ser motivo de preocupação. Uma delas já foi manifestada pelo general Villas Boas um tempo atrás: os governadores podem se acomodar e empurrar a política de segurança pública para o governo federal. Se as coisas derem errado, podem dizer que o culpado é o presidente da República, não eles. Muitos Estados encontram-se numa situação semelhante à do Rio, com salários atrasados, gastos públicos nas alturas e perda do controle da segurança. Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul estão nesse caminho. O Rio poderá servir de laboratório para futuras ações em outros Estados.
Nesse caminho, em pouco tempo boa parte do Brasil pode estar sob intervenção. Isso não é bom para a democracia nem para os dirigentes do País.
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