Antes da Lava-Jato, eram nove; únicos que ficaram no partido, filhos de Cabral e Picciani buscam reeleição
Bruno Góes | O Globo
BRASÍLIA - Ao caminhar pelo plenário da Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (PMDBRJ) é abordado por colegas: “Ministro, ministro!”. Trata-se de um ritual de boas-vindas para quem acaba de deixar o cargo no governo e retorna ao Parlamento para disputar a reeleição. Apesar dos abraços, Picciani, que saiu da pasta do Esporte há uma semana, volta ao Congresso com um constrangimento: a bancada do PMDB do Rio de Janeiro foi reduzida a escombros pela Lava-Jato.
Com a janela partidária, dos nove deputados fluminenses do PMDB, só dois permaneceram na legenda: o próprio Picciani e Marco Antônio Cabral, cujos pais são, respectivamente, Jorge Picciani e Sérgio Cabral — ambos presos por participarem do esquema criminoso que se instalou no estado do Rio. A única lealdade possível é a de filho para pai.
Altineu Côrtes, um dos dissidentes da bancada, jura que só mudou de partido porque recebeu uma proposta para presidir o PR no Rio.
— A Lava-Jato contribuiu (para a saída de deputados), sem sombra de dúvidas. É uma coisa que todo mundo vê.
Mesmo órfãos na bancada e com o peso do sobrenome, Marco Antônio e Leonardo Picciani vão buscar um novo mandato. Eles apostam em uma bandeira comum, pois estiveram à frente do Ministério do Esporte e da Secretaria de Esporte e Lazer do Estado do Rio.
Nas últimas semanas, Marco Antônio visitou municípios do Rio e acompanhou programas sociais que conjugam esporte e saúde. Também inaugurou uma quadra poliesportiva em Resende, no Sul Fluminense. Segundo um deputado, que também saiu do partido e só falou na condição do anonimato, o sobrenome “Cabral”, apesar de todas condenações que o ex-governador leva nas costas, pode ajudar Marco Antônio.
— Com 30 mil votos, o Marco Antônio se elege. Se você pegar uma pesquisa espontânea para governador, ainda há uma parte residual das pessoas que dizem: “Cabral”. Se o eleitor identifica o sobrenome, o Marco Antônio ainda pode ganhar votos. Mas essa é uma eleição muito difícil.
Ao GLOBO, Leonardo Picciani e Marco Antônio ainda tentaram argumentar que a LavaJato não contribuiu para o esvaziamento da bancada. Marco Antônio diz que as saídas foram “naturais e eram esperadas” e que o PMDB “continua sendo o maior partido do Rio”. Picciani alega que “questões locais” influenciaram a decisão dos parlamentares.
HEGEMONIA NO ESTADO
Desde 2006, com a eleição de Sérgio Cabral ao governo, o PMDB estabeleceu uma hegemonia na política fluminense. Agora, a bancada do PSOL do Rio de Janeiro ultrapassa a bancada peemedebista: são três deputados contra dois.
Percebendo o desgaste do partido, o ex-prefeito Eduardo Paes disse publicamente que era preciso “mudar de ares”. Resolveu migrar para o DEM. Com ele, levou o deputado Pedro Paulo. Também deixaram a bancada Celso Pansera (PT), Soraya Santos (PR), Alexandre Serfiotis (PSD), Zé Augusto Nalin (DEM) e Laura Carneiro (DEM).
Marco Antônio usa as redes sociais para divulgar suas ações no Congresso. Já apresentou 37 projetos de lei. Dois deles podem ser vantajosos para o pai. Protocolada em fevereiro deste ano, uma das propostas diminui em sete dias o cumprimento da pena do presidiário no caso de doação de sangue. O outro atende aos agentes penitenciários: isenta os servidores de Imposto de Renda e de IPI na compra de automóveis próprios.
Leonardo Picciani emplacou um aliado no Ministério do Esporte: Leandro Cruz. O novo ministro compareceu, na última quarta-feira, à Comissão de Esporte da Câmara. E, lá, não deixou de fazer elogios ao antecessor.
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