O cientista político lança nesta semana o livro ‘A difusão parlamentar do sistema partidário’, que desmistifica o papel dos partidos nanicos
Jeferson Ribeiro | O Globo
Mesmo com um cenário bastante incerto para a disputa presidencial, o que é possível prever para os próximos meses?
Primeiro vamos de Lula. Ele é uma figura carismática indestrutível, mas isso não significa que permanecerá com essa capacidade eleitoral. Nem todos que dizem votar no seu indicado, votarão. Mas o Lula tem que tomar decisões importantes nos próximos meses. Primeiro, terá de decidir se não será mais candidato. Uma segunda decisão relevante é se realmente vai apoiar alguém. Terceiro, quem será o escolhido. Essas três questões vão chacoalhar o quadro de hoje. Não sei se a polarização está morta, talvez a que exista entre PT e PSDB, sim. Mas pode acontecer com outros nomes.
Qual deveria ser a estratégia da esquerda?
Eu acho que a esquerda devia estar discutindo um outro candidato. Mas isso depende do Lula. Não há outro caminho e isso pode gerar o acirramento desse radicalismo, esse sebastianismo evangélico do PT, contra uma alternativa bastante interessante que é Ciro Gomes. Esse silêncio pode criar a inviabilidade de um acordo entre as forças lulistas e o Ciro e tem a capacidade de dividir a esquerda. E ele é o cara ideal para entrar em disputa com os conservadores, ele é um cara que tem tutano para fazer isso. O Jaques Wagner e o (Fernando) Haddad são ótimos quadros, mas não para o contexto desse debate duro. O Lula, para meu desgosto, manteve toda a esquerda sitiada. Está presa junto com ele. Então, a chance de vitória da direita, em tese, é maior. O problema da direita é que não tem candidato. Por isso, se o Joaquim Barbosa for candidato, eu acho que herdará os votos da direita. Ele é um homem para o momento, assim como o Ciro. A eleição será dura. Antes da prisão do Lula e do aparecimento do Joaquim, eu achava que a esquerda poderia levar fácil. Agora, a coisa muda de figura.
Qual o tamanho do impacto da prisão de Lula para esse campo?
Estão desorientados. Sem rumo. A posição majoritária do campo da esquerda é com Lula até o fim. Mas isso não pode ser até o dia 7 de outubro. Acho que está tudo desorganizado desde o impedimento da Dilma (Rousseff). Há uma desorientação grande e um erro estratégico tanto de esquerda quanto da direita. Pior, está se criando um contexto cívico de difícil recuperação. Hoje, não existe uma polarização eleitoral ou sequer partidária, o que há é uma divisão de culturas, de valores, de comportamento, enfraquecendo a direita e a esquerda. Basta ver as manifestações nas redes sociais. A esquerda está fazendo censura tanto quanto a direita. Assassinatos de caráter, falsificações de números e de fatos, um é o espelho do outro. Nunca aconteceu antes. Isso está tornando muito difícil a administração por parte das lideranças políticas, aquelas que ainda estão com um pouco de sanidade, desse período até outubro. Porque tem que chegar até outubro para eleger alguém com legitimidade.
Como o senhor vê o desempenho de Bolsonaro?
O Bolsonaro ainda não entrou na minha equação política. Ainda não estou convencido de que ele significa algo, exceto para tomar voto da extrema direita. Não acho que a situação dele ficará assim até outubro. Quem precisa se preocupar com esse cenário de crescimento é o (Geraldo) Alckmin e o Joaquim Barbosa, porque estão no campo de direita. Portanto, ainda não levo a sério o Bolsonaro. O que não quer dizer que isso não possa mudar.
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