- O Estado de S. Paulo
Doze anos depois, tucano parece ainda não ter aprendido diferença entre São Paulo e o Brasil
A campanha de 2006 deveria ter funcionado como um alerta para Geraldo Alckmin: uma eleição nacional não segue, nem de longe, os parâmetros de São Paulo. Simplesmente porque poucos lugares no mundo podem ser mais distantes do Brasil que São Paulo.
O início da segunda jornada presidencial do tucano, no entanto, parece mostrar que algumas coisas permanecem inalteradas. É verdade que, agora, ele adotou as balizas de um programa econômico caro logo de saída. Isso traz nitidez ao debate, o situa no campo dos que defendem reformas, rigor fiscal e privatizações e evita que ele repita o mico da jaqueta com emblemas de bancos públicos e estatais.
Mas na política e, sobretudo, na forma como se apresenta Alckmin continua sendo o mesmo de sempre. Seus aliados constataram, chocados, que o grupo de Michel Temer vazou em minutos o fato de o tucano ter procurado o presidente para iniciar conversas para uma possível união. Isso porque, em São Paulo, Alckmin se acostumou por muito tempo a ser o governador, aquele ao redor de quem as articulações se davam e que ditava o ritmo das conversas.
Jogando “em casa”, Alckmin teve em sua aliança partidos de A a Z, acomodados num amplo cabide de mais de duas décadas de poder ininterrupto do PSDB no Estado.
Mas fora das fronteiras paulistas Alckmin é desconhecido pelos eleitores e pouco reverenciado pelos políticos. Não tem o cheiro de poder que exalava em São Paulo. Potenciais apoiadores precisam olhar para ele e ver não o Picolé de Chuchu, mas alguém capaz de encarnar aos olhos de uma parcela do eleitorado o líder que 2018 requer: acima da polarização, mas não desprovido de autoridade; sem máculas éticas depois do trauma da Lava Jato; com força política para fazer reformas, começando pela da Previdência, e capaz de colocar ordem inclusive nas instituições, cujos papéis estão bagunçados.
Não é pouca coisa. E, por ora, as pesquisas mostram que o eleitor vê esses atributos antes em outros candidatos que nele. A ficha de que as coisas não vão bem parece ter começado a cair no QG tucano. Pesquisas qualitativas deixaram aqueles que têm cabelos com os mesmos em pé. A mácula ética suja o PSDB tanto quanto PT, o próprio Alckmin é colocado no balaio da Lava Jato e a maioria da população ignora sua existência.
Foram esses dados que fizeram com que ele deixasse um pouco sua tática de “jogar parado” e saísse por aí tentando modular o discurso e fixar uma imagem. E é nessa hora que os erros de 2006 aparecem.
Naquela campanha, Alckmin fez seu comitê em Brasília, numa área remota da capital. Todos os dias os jornalistas que iam até o longínquo Setor de Indústrias Gráficas colher informações da campanha tucana eram brindados com duas coisas: bombons Sonho de Valsa e a receita de seis dicas de Alckmin para a vida saudável, que começava com primeiro sol da manhã na retina, passava por ômega 3 e o resto, felizmente, a memória não me permite mais lembrar. Doze anos depois, qual a “jogada” de Alckmin para ser mais conhecido na pré-campanha? Vídeos com conversas com eleitores em padarias! Quem vai escolher um líder nacional na fila do pãozinho?
Enquanto ele oscila entre a média com pão na chapa e um discurso que flerta com as ideias já associadas a Jair Bolsonaro na segurança, no PSDB volta a ganhar corpo o zunzunzum da troca de candidato por João Doria.
Alckmin tem o controle do PSDB e essa manobra é muito difícil em condições normais de temperatura e pressão. Mas o simples fato de o líder nas pesquisas estar preso e o segundo colocado ser de um nanopartido mostra que esta campanha será tudo, menos travada segundo o cânone clássico.
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