Em tratado eleitoral, sigla cita risco de retrocesso, defende reformas e lembra que a petista foi popular até seu legado implodir
Daniela Lima | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Com sua gestão rejeitada pela maioria da população, o MDB decidiu desenterrar os esqueletos do governo Dilma Rousseff (PT) no documento em que faz um balanço da presidência de Michel Temer e apresenta suas diretrizes para o debate eleitoral, num aceno à pré-candidatura de Henrique Meirelles.
Intitulada Encontro com o Futuro, a nova carta-compromisso da sigla defende o impopular legado do emedebista e aponta a continuidade de sua agenda como caminho para evitar um retrocesso.
"A opção para os eleitores pode ser radicalmente simplificada: continuar políticas que deram certo e que estão impulsionando a recuperação da economia, ou voltar às que causaram recessão, desemprego, inflação e aumento da pobreza", diz o texto a que a Folha teve acesso.
"Este tem que ser o cerne do debate eleitoral. Quem fugir dele estará claramente procurando enganar a população."
Elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, o Encontro gasta metade das 48 páginas intercalando diagnósticos sobre o cenário pré-impeachment com resultados dos 20 meses de governo Temer.
Há ainda linhas gerais de propostas para diversas áreas. "Em 2016, no auge da crise econômica, 24,8 milhões de brasileiros estavam vivendo em situação de pobreza extrema, (...) quase 9 milhões de novos pobres, aumento de 53% em comparação com 2014."
Em outro trecho, o partido explora dados negativos no mercado de trabalho. "Em 2015, 1.543.000 brasileiros perderam o emprego e, em 2016, 1.326.000 postos de trabalho foram eliminados."
O MDB admite que não conseguiu reverter o quadro por completo, mas relativiza: "Em 2017, mesmo com o início da retomada da atividade econômica, o saldo ainda permaneceu negativo. Só que, desta vez, por muito pouco: perdemos 21.000 empregos".
O partido de Temer diz que começou a trabalhar em 2016, após o afastamento de Dilma, sobre destroços. A sigla compara o cenário pré-eleitoral de hoje ao que antecedeu o impeachment, quando apresentou o Ponte para o Futuro, um tratado direcionado ao mercado e ao Congresso que selou a ofensiva para apear a petista.
"Nosso dever agora é o mesmo que nos levou a agir a partir do final de 2015 (...). É o de esclarecer, advertir e convencer. É o de lembrar a situação que encontramos (...) e o caminho longo e difícil que ainda temos pela frente".
O novo texto tangencia temas como o combate à corrupção e a altíssima impopularidade de Temer.
Recorrendo novamente à gestão de Dilma, diz que "não podemos nunca nos esquecer que o governo que provocou a crise foi durante quase todo o tempo aprovado pela maioria, e que o que corrigiu aqueles erros, com resultados inequívocos, é reprovado".
Toda a cúpula do partido é alvo de acusações na Justiça, mas o documento não traz mea culpa. Só defende a continuidade das investigações.
O Encontro será apresentado pelo MDB na terça (22). Aliados de Temer dizem que as indicações de que investidores estão inquietos com a imprevisibilidade da eleição deram impulso para o presidente ser pressionado a abandonar o figurino de candidato e abrir caminho a Meirelles.
O texto apresenta a reforma da Previdência e o que chama de reforma do serviço público como medidas imprescindíveis à ampliação de investimentos no combate à pobreza, na saúde e na educação.
Sem cortar privilégios, enfatiza, não será possível gastar mais com o social.
O fracasso das negociações com o Congresso pela aprovação de mudanças nas regras de aposentadoria é colocado, de maneira velada, na conta de Rodrigo Janot e da delação da JBS. "A oportunidade [de aprovar a reforma] se perdeu pelo oportunismo de iniciativas no campo judicial, que desviaram, talvez propositadamente, a atenção."
A continuidade de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, é defendida. Sem eles, diz o texto, "nossos níveis de pobreza e de miséria teriam alcançado escala insuportável". O MDB prega, porém, a integração de todos os benefícios em um cadastro único.
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